A palavra rotina não consta no vocabulário do casal de atores Sílvio e Bianca Lemgruber. Juntos há seis anos, eles compartilham a casa, os amigos, os pastores belgas, o carro e as 24 horas de jornada, dentro e fora do palco. Mesmo casando de novo todo fim de semana, na pele dos personagens de “A Bela e a Fera”, no Teatro dos Quatro, no Rio, a dupla garante que nada os faz enjoar da vida a dois.

? Ela é bailarina e eu sou coreógrafo do programa do Faustão. Namoramos durante cinco anos e nos víamos todos os dias em gravações e ensaios. Se não cansamos um do outro até agora, acho difícil mudarmos de idéia ? diz Sílvio.

O casal não está sozinho. Professores de educação física, médicos, psicólogos e comerciantes provam que, longe de atrapalhar, uma profissão em comum pode até facilitar o relacionamento amoroso. Que o digam os psicólogos Sandra Salgado e Carlos Eduardo Brito, casados há 14 anos. O respeito mútuo é um ingrediente indispensável ao bom relacionamento do casal.

? O companheirismo e a sensibilidade para entender o outro também são importantes. Atuar na mesma área ajuda muito porque há troca de informações e enriquecimento mútuo. Sabemos, por exemplo, quanta concentração nos é exigida nas consultas e não fazemos tantas cobranças ao fim do dia ? afirma Sandra, acrescentando que o casal deve reservar horas para o lazer quando não está trabalhando.

? A receita é fugir da rotina do trabalho explorando prazeres em comum nos momentos de folga, tais como ir ao cinema e ao teatro ou ver os amigos.

Doses de ciúme são saudáveis a qualquer relacionamento

Sócios do Centro de Treinamento Físico Maxicorps, os professores de educação física Patrícia e Marcos Marinho souberam administrar as mazelas da vida de um casal que atua na mesma carreira. Obrigada a dedicar-se exclusivamente a uma rotina que consiste em esculpir corpos alheios, a dupla diz que nem tudo são flores quando o casal compartilha o ambiente dos centros de fisiculturismo. Por outro lado, os dois também são unânimes em afirmar que o respeito e a admiração ajudam.

? Estamos juntos há 13 anos, sendo cinco deles no mesmo trabalho. É lógico que, principalmente no início, havia ciúme. É difícil manter um relacionamento fixo porque há muita gente interessante ao redor. Com o tempo a confiança no outro aumenta e fica mais fácil ? diz Patrícia.

Para o psicanalista Sander Fridman, o ciúme é o tempero do relacionamento, mas é preciso saber dosá-lo.

? Desde que não seja patológico e obsessivo, o ciúme pode ser usado como critério para percebemos a importância do parceiro.

Prestes a dividir pela primeira vez o palco do Teatro Miguel Falabella, com a comédia romântica “Dê uma chance ao amor”, de Heloísa Périssé, outra dupla de atores ? Mário Frias e Nível Stelmann ? também não se queixa de unir o amor ao trabalho.

? Tanto para mim quanto para ele, as 24 horas do dia mal bastam e quanto mais tempo tivermos juntos, melhor. No entanto, é preciso respeitar a individualidade e a privacidade de cada um e não restringir os assuntos a questões profissionais, reservando sempre um espaço para discutir a relação, os hobbies, algo que nos dê prazer fora do meio ? diz Nívea, que costuma treinar as falas de seu texto com Mário.

Mulher do diretor da TV Globo Ricardo Waddington, com quem trabalha em “Coração de estudante”, trama das 18h, a atriz Helena Ranaldi também acha que a receita antimonotonia está na busca por prazeres em comum .

? Ser mulher de um diretor já foi complicado, mas hoje isso não me incomoda mais. Em nenhum momento me sinto a sombra dele. O ideal é não discutir no trabalho e evitar falar sobre o assunto em casa ? diz Helena.

Especialistas em recursos humanos dizem que é impossível evitar interesses afetivos entre pessoas que passam de oito a 12 horas por dia no mesmo ambiente. Por outro lado, algumas empresas têm uma política contrária a este tipo de relacionamento.

? A política de proibir parentes ou casais de trabalharem juntos não é mais tão rígida quanto nos anos 80. Hoje, as empresas reavaliaram os seus conceitos. Relações amorosas no trabalho podem ser um problema, se não forem bem administradas, sobretudo em empresas pequenas. Mas, desde que haja competência, a relação afetiva não compromete o trabalho ? diz o consultor Dernizo Pagnoncelli.

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