Quando o vovô – ou a vovó -começa a se comportar de maneira diferente, o mais comum é dizer “isso é uma consequência do envelhecimento”.

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Mas atitudes como dificuldade com a fala, desorientação de tempo e espaço e demora em lembrar fatos recentes, pode ser um indicativo de algo bem mais sério: a doença de Alzheimer.

“Trata-se de uma enfermidade progressiva que pode levar à dependência total, por isso, o papel do cuidador aliado ao tratamento adequado podem adiar a sua progressão”, explica o neurologista Paulo Bertolucci. Forma mais comum de demência (doenças que provocam alteração de memória e outras funções cognitivas, como o planejamento e a linguagem), a doença de Alzheimer não tem causa conhecida e sua prevalência e incidência aumentam com a idade.

Segundo a publicação científica The Lancet, a cada sete segundos uma pessoa fica com demência no mundo. No Brasil, 1,2 milhão de pessoas são portadoras de Alzheimer e estima-se o surgimento de 100 mil casos novos ao ano.

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A doença se caracteriza por uma disfunção na parte do cérebro que controla a memória, o raciocínio e a linguagem, em diferentes graus, do inicial ao avançado. Dessa maneira, seu portador terá mudanças significativas em toda a sua rotina. Nas fases mais avançadas, a pessoa com doença de Alzheimer passará a precisar da ajuda de um cuidador para praticamente todas as suas atividades.

Qualidade de vida

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Apesar da necessidade desse apoio e de ainda não existir a cura, já estão à disposição dos pacientes alguns medicamentos que retardam a progressão da doença e outros que minimizam os distúrbios no humor e comportamento.

Dentre eles, os inibidores da acetilcolinestinesterase, que atrasam de forma significante o declínio da função cognitiva em portadores que sofrem dos casos mais leves ou moderados do transtorno.

Cabe ao médico (o neurologista é o especialista mais indicado) avaliar e indicar o tratamento mais adequado a cada paciente. “Vários fatores, como a terapia medicamentosa e os cuidados das pessoas ao paciente podem contribuir para que a doença de Alzheimer fique estável pelo maior tempo possível”, reconhece Bertolucci.

Os cuidados e atenção com os pacientes são os maiores desafios dos integrantes de uma família que tenha, entre ela, portadores da doença. Envolver o maior número de membros possível nas atividades diárias de cuidados, mesmo que haja um cuidador contratado, é fundamental para assegurar a tranquilidade do paciente e fortalecer seus laços familiares, preservando sua convivência familiar.

“Mesmo que sejam necessárias algumas adaptações para tais programas, como o uso de uma cadeira de rodas para a locomoção, é essencial procurar formas de manter a atividade e o convívio”, destaca o neurologista.

Atenção ao cuidador

De modo geral, o familiar representa mais do que a simples presença de alguém promovendo cuidados ao paciente. Independente das possibilidades terapêuticas, a pessoa que cuida pode compreender e realizar com carinho difíceis tarefas como, por exemplo, promover a higiene pessoal, controlar os horários da medicação, preparar e dar uma alimentação adequada e fazer curativos, entre outras.

É claro que profissionais contratados para essas tarefas poderão fazê-las melhor, tecnicamente, mas em determinadas situações o que importa é a maneira e o carinho com que é realizado o atendimento.

Uma pessoa que cuida de um portador de doença crônica, por exemplo, pode se tornar fragilizada física e mentalmente. O cuidador, na maioria das vezes, assume um papel que lhe foi imposto pelas circunstâncias e não por escolha própria, apesar de, invariavelmente, achar que essa missão é mesmo sua.

Para o geriatra Rubens Fraga Júnior, geralmente, os cuidadores não sabem o que lhes espera e não têm noção do quanto será exigido. E o que é pior: se não houver uma estrutura familiar favorável, todos sairão perdendo, in,clusive o doente. “Quem já cuidou de algum parente com algum tipo de incapacidade sabe que essas doenças provocam situações estressantes”, comprova o médico.

A primeira inquietação experimentada pela pessoa que passa à condição de cuidador é sentir-se incapaz de cumprir o seu papel. Para isso, ela deve procurar conhecer bem a doença, seus sintomas, como é a evolução e o que fazer em determinadas situações.

Nesse sentido os médicos sugerem que os cuidadores procurem o suporte de grupos de apoio. Além disso, no entender do geriatra João Carlos Gonçalves Baracho, todos na família devem compreender que quem está cuidando também tem o direito de viver a sua vida o mais normalmente possível. “A qualidade de vida do cuidador é primordial para o bem-estar do próprio enfermo”, alerta.

A rotina desgastante do cuidador

* Atuar como elo entre a pessoa cuidada, a família e a equipe de saúde
* Escutar, estar atento e ser solidário com a pessoa cuidada
* Ajudar nos cuidados de higiene
* Estimular e ajudar na alimentação
* Ajudar na locomoção e atividades físicas, como andar, tomar sol e exercícios físicos
* Estimular atividades de lazer e ocupacionais
* Realizar mudanças de posição na cama e na cadeira, e massagens de conforto.
* Administrar as medicações, conforme a prescrição e orientação da equipe de saúde
* Comunicar à equipe de saúde sobre mudanças no estado de saúde da pessoa cuidada
* Outras situações que se fizerem necessárias para a melhoria da qualidade de vida e recuperação da saúde dessa pessoa.