O momento, infelizmente, fica congelado na memória. O movimento, o giro, a torção, a dor. Em seguida, choro, desespero e desilusão. O filme projetado de uma vida de sucesso e glória se apaga momentaneamente. Vem a incerteza do sucesso da cirurgia e o abandono precoce da carreira esportiva se torna uma opção a ser considerada. Depois, horas de fisioterapia para reabilitação física. Sem contar os aspectos psicológicos que interferem na recuperação. A paciência de esperar, em média, oito meses para retornar à atividade normal. Assim é a caminhada de um atleta que sofre uma grave lesão no joelho e tem de ficar afastado do esporte.
Entre outros, Aurélio Miguel, Ana Moser, Marcelo Negrão, Garrincha, Zico, Raí e Pedrinho. Mais recentemente, Dagoberto, do Atlético Paranaense. Na última semana, Keirrison, a jovem promessa do Coritiba. Todos esses atletas romperam os ligamentos cruzados anteriores do joelho, o ?calcanhar-de-aquiles? do atleta profissional. ?A função desses tendões localizados na frente e atrás dos ossos é garantir a estabilidade do joelho?, explica o ortopedista Edílson Tiele.
De acordo com o especialista, a reconstrução dos ligamentos só é possível por meio de cirurgia. ?A não ser quando a ruptura se der parcialmente, daí o tratamento é conservador?, ressalta, salientando que as técnicas mais utilizadas de reconstrução do ligamento utilizam um enxerto com tendões retirados da região patelar ou semitendinosa. Outra opção é a utilização de tendões retirados de cadáver.
Sucesso
Tiele reconhece que antigamente as dúvidas e incertezas que atingiam os atletas vítimas de tal ruptura tinham razão de ser, só que hoje as novas técnicas garantem quase que plenamente o retorno a sua atividade dentro dos níveis anteriores. ?Pela experiência que temos nesse procedimento, podemos afirmar que o índice de sucesso chega a 90% dos casos?, garante. Estima-se que esse percentual de atletas passa pela cirurgia e volta a praticar o esporte normalmente. Poucos retornam abaixo do nível e uma quantidade mínima é obrigada a pendurar as chuteiras.
Com as modernas técnicas cirúrgicas, o retorno às atividades esportivas, sem restrições, leva em torno de oito meses após a cirurgia. As lesões do ligamento cruzado anterior são mais comuns em esportes em que o pé está fixo ao solo e a perna gira com o corpo, como no futebol, basquetebol e esqui, por exemplo. Com a rotação no joelho, o paciente pode ouvir um barulho quando a lesão ocorrer, ficando impedido de prosseguir a atividade. ?A incidência dessa lesão não está atrelada à idade nem à carga de exercício administrada ao atleta?, observa Edílson Tiele. Tanto é que uma média de oito cirurgias desse tipo são realizadas em sua clínica semanalmente. São os ?peladeiros? de final de semana as maiores vítimas.
Para Paula Pequeno, atleta da seleção brasileira de vôlei, que passou pela cirurgia, a pior parte da recuperação foi a psicológica. Em seis meses é necessário passar por várias fases, com o objetivo de ganhar um reforço muscular, melhorar a amplitude do movimento, depois adquirir força e resistência. ?A ansiedade, natural desse momento, não deve atrapalhar a recuperação, é preciso autocontrole para que o retorno não seja precipitado?, ensina.
CUIDADOS QUE AJUDAM
Algumas recomendações importantes que podem evitar alguns tipos de lesões no joelho:
* Alongar os tendões flexionando e esticando as pernas ? o ideal é realizar séries completas de alongamentos, que levam de 10 a 20 minutos.
* Fazer exercícios para fortalecer a musculatura e adquirir potência nas pernas. Bicicleta e corridas regulares são as atividades mais recomendadas.
* Antes da ?pelada?, dar pequenos piques ao redor do campo, ou da quadra, para aquecer o corpo e ativar as articulações.
* Para fortalecer os músculos é recomendado que os exercícios sejam feitos sob a supervisão de profissionais especializados.