?Meu pai acordou pela manhã e percebeu que estava zonzo, com a língua ?embolada?. Sem imaginar o pior, pensávamos que poderia ser um mal-estar ou uma labirintite. Sem demora, o levamos para o Pronto Socorro. Aquilo que parecia ser um simples desconforto se transformou em uma grave complicação. A notícia caiu como uma bomba: ele foi vítima de um AVC (acidente vascular cerebral). Por ter sido atendido com rapidez, a doença afetou a fala e o lado esquerdo do corpo. O médico falou que se demorássemos mais um pouco, as conseqüências poderiam ser ainda piores.? O relato de Carolina S. M. ratifica o alerta dos médicos intensivistas: a vítima de AVC tem, no máximo, três horas para receber atendimento e minimizar os riscos do acidente.
O neurocirurgião Luis Alencar Borba, do Hospital Pilar, explica que alguns tratamentos funcionam melhor se aplicados logo após o início dos sintomas, ?mas infelizmente a maioria dos pacientes chega ao hospital muitas horas depois?, constata. De acordo com diretrizes da Academia Brasileira de Neurologia, o paciente deve receber trombolíticos (medicamentos que dissolvem coágulos) até três horas depois da crise.
Borba dá conta de que o tipo mais comum de AVC é causado quando uma obstrução interrompe repentinamente o fluxo sangüíneo, impedindo que o oxigênio e os nutrientes essenciais cheguem até o cérebro, causando a morte de tecidos cerebrais. ?É o chamado AVC isquêmico?, explica. O outro tipo de AVC é o hemorrágico, e acontece quando um vaso sangüíneo que supre o cérebro se rompe, causando perda de sangue no interior ou em torno do cérebro, dando origem aos coágulos. ?Em ambos os casos as células nervosas morrem rapidamente?, enfatiza o especialista, salientando que, quando isso acontece, a parte do corpo controlada por essas células nervosas não funciona adequadamente, comprometendo muitas vezes de forma permanente sua função.
Seqüelas físicas e mentais
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, das quinze milhões de pessoas no mundo que sofrem de um AVC a cada ano, mais de cinco milhões morrem em decorrência da doença. Entre as sobreviventes, metade carregará para sempre graves seqüelas físicas e mentais, com enorme impacto familiar, social e econômico. No Brasil, a população conhece o AVC por outros nomes, como trombose, convulsão ou derrame. Seja qual for o apelido, muitos não valorizam esse acontecimento como deveriam.
As complicações do AVC podem ser evitadas por uma assistência especializada, com a utilização de equipamentos que possibilitem o diagnóstico com rapidez. ?O AVC é considerado uma emergência médica, pois o atendimento precisa ser realizado em um curto espaço de tempo?, afirma a neurologista Cláudia Baeta Panfilio. A médica enfatiza a necessidade urgente de o paciente não ficar esperando os sintomas passarem ou ?consultar? um farmacêutico, pois para se ter sucesso no atendimento emergencial, o derrame precisa ser combatido desde os primeiros sinais. ?Reconhecer e tratar rapidamente um caso de AVC é um dos grandes desafios de quem lida com saúde?, reconhece a especialista.
De acordo com o médica, boa parte das mortes e seqüelas poderia ser evitada com medidas de prevenção e tratamento adequado do problema. Conforme a especialista, a realização de check-up clínico com freqüência, alimentação equilibrada, exercícios físicos, não fumar e procurar diminuir os níveis de estresse reduzem significativamente o risco de um AVC.
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Centro especializado
O acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença grave que pode causar seqüelas irreversíveis se a pessoa não for atendida rapidamente. Com base nessa constatação e tendo como modelo grandes centros americanos de referência médica, o Hospital Pilar, de Curitiba, acaba de inaugurar a sua Unidade de Tratamento do AVC Agudo. Um médico especializado avalia a urgência do caso, orienta e encaminha o paciente para o setor responsável do hospital, evitando intercorrências que possam retardar o tratamento. A unidade dispõe de dois números de telefone 24 horas por dia.
SERVIÇO
Unidade de Tratamento do AVC Agudo Hospital Pilar, em Curitiba Endereço: Av. Desembargador Hugo Simas, 322 – Pilarzinho Telefones (41) 9925-0300 e (41) 9925-0400.
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Sinais de alerta
Os sintomas do AVC geralmente ocorrem de maneira inesperada. Ao menor sinal dos sintomas abaixo, procure imediatamente ajuda especializada. Não espere! Cada minuto é importante.
* Perda de equilíbrio ou coordenação
* Dores de cabeça repentinas e fortes
* Dificuldades na fala ou no entendimento
* Fraqueza, dormência ou paralisia em um lado do corpo
* Tontura
* Vista embaçada ou perda da visão
OLHO: A sigla AVC é bem apropriada, pois o evento é reconhecido como um acidente por ser um acontecimento inesperado; é vascular, pois diz respeito aos vasos sangüíneos, e cerebral porque bloqueia as artérias que irrigam o cérebro.