Brasília
– Estudantes da Faculdade de Engenharia Industrial (Fei), de São Bernardo do Campo (SP), desenvolveram um projeto de prótese de joelho, de baixo custo e mais leve, itens que ampliam a possibilidade de acesso as peça por parte das pessoas acidentadas. Hoje, grande parte das próteses é importada, tornando-as inacessíveis às camadas mais pobres da população.O projeto é um aprimoramento de trabalho apresentado por outro grupo de estudantes, ano passado. O diferencial é que, agora, foram incorporadas à peça algumas novidades no tocante a ergonomia. Como exemplo é citada a maior simplicidade na concepção da prótese, a partir da redução da massa de seus componentes – o protótipo pesa menos que 250 gramas -, o que também permite um custo final de US$ 36,76, uma economia de 125,85% em relação ao projeto anterior.
Os estudantes começaram a estudar o projeto incentivados por uma Ong inglesa patrocinada pela então princesa Diana. A entidade buscava uma solução mais econômica para ajudar pessoas mutilada em acidentes com minas terrestres instaladas durante os conflitos militares na África. Na ocasião, os africanos importavam, em pequenas quantidades, próteses alemãs. Segundo o orientador do projeto, professor Álvaro Camargo, os estudantes se mobilizaram em busca de um protótipo que atendesse às necessidades e que custasse menos de R$ 1.500.
O engenheiro metalúrgico Rodrigo Magnabosco, coordenador do projeto, diz que muitas pessoas que têm os membros inferiores mutilados devido a acidentes automobilísticos, em campos minados, ou em trabalho acabam, por motivos financeiros, confinadas a uma cadeira de rodas, a incomodas muletas ou até mesmo a imobilização em uma cama em consequência do alto custo de uma prótese que permita a ela manter uma vida produtiva.
As pesquisas, conta o engenheiro mecânico Diego Granado, que participou do projeto junto com outros seis ex-alunos, demoraram cerca de um ano. “Primeiro fizemos a construção e a viabilização da prótese e, em seguida, sua validação por meio de testes dinâmicos. Como ainda não existe um modelo industrial, fizemos três simulações sob software que passaram nas normas estabelecidas para sua confecção”, explica ele.
Para diminuir o custo da fabricação e tornar o produto viável, optou-se pelo emprego de alumínio fundido, poliméricos e alguns componentes em aço. “O custo inicial foi relativamente baixo, mas, se for produzido em larga escala em altas temperaturas, o preço reduziria ainda mais”, diz Granado. Magnabosco informa que os custos da pesquisa foram bancados pela Fei, com a participação dos alunos e vê como fundamental as contribuições técnicas da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e os materiais e informações cedidos pelo Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo.
“Queremos dar qualidade de vida às pessoas de 30 a 50 anos, que não podem se locomover. Com a prótese, elas ganham autonomia para pequenas tarefas, como ir ao banheiro sem a necessidade de um acompanhante”, destaca o professor Camargo. O custo da prótese é diretamente proporcional à sua utilização. “Para um maratonista, que necessita de uma prótese para continuar a competir, é imprescindível uma tecnologia mais sofisticada, com materiais mais caros, como fibra de carbono e liga de titânio. E Isso encarece o produto”, lembra ele.
“As próteses encontradas no mercado são caras, pois envolvem tecnologias avançadas. A maior parte dos usuários é dependente do Sistema Único de Saúde e muitos ficam anos na fila de espera. Só no ano passado foram 8 mil pessoas. O SUS gasta cerca de R$ 5 mil para a colocação da prótese de joelho. Quem sabe se, gastando apenas mil reais, o atendimento possa chegar a um número bem maior de pessoas”, conjectura.
O HC disponibilizou seu laboratório para que a prótese dos estudantes da Fei possa ser testada. Antes, porém, serão feitos alguns ensaios mecânicos para identificar e corrigir possíveis defeitos. Se os testes resultarem positivo, o professor Camargo admite até o patenteamento do projeto, que está concorrendo ao prêmio ALCOA – empresa do ramo metalúrgico -, que recompensa as inovações tecnológicas com uso de alumínio. (Camila Cotta)