Um projeto piloto, lançado no Rio para prevenir a cegueira entre jovens diabéticos, mostrou que é grande o número de pacientes que desconhecem ter a lesão inicial. Se tratada essa lesão, a doença pode ser reversível. Dos 124 jovens testados, em seis meses, 26% precisavam de tratamento. Nenhum tinha conhecimento do problema. O programa Oftalmologista Amigo do Jovem Diabético está prestes a ser lançado em São Paulo.
“Nossa intenção é reduzir a perda visual relacionada a diabete. A retinopatia é assintomática, silenciosa e tem a ver com a falta de controle da diabete”, afirma a endocrinologista Solange Travassos, presidente da União das Associações de Diabéticos do Estado do Rio (Uaderj) e coordenadora do projeto.
O nível alto de açúcar no sangue causa lesões nos vasos sanguíneos que nutrem a retina. São lesões pequenas, que provocam visão desfocada, e podem ser identificada por um exame de fundo de olho, feito com a pupila dilatada. Se não forem tratadas, o paciente pode ter um sangramento repentino, com descolamento da retina. “Se isso ocorre com paciente de plano de saúde, ele corre para o hospital e faz cirurgia a laser. Na rede pública de saúde, a fila tem 300 pessoas e até ser atendido, o jovem ficará cego”, diz Solange.
A retinopatia costuma aparecer a partir da adolescência e causa problemas de visão para mais de 90% após 20 anos de doença. A recomendação é que o paciente faça um exame de fundo de olho anual a partir da adolescência. Já as crianças devem começar a ser examinadas entre 3 e 5 anos depois dos primeiros sintomas.
Numa parceria entre a Uaderj e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), com apoio da Sanofi Diabetes, oftalmologistas de todo o Estado foram convidados a participar da campanha. Eles deveriam se comprometer a atender dois pacientes carentes por mês. Se identificado o problema no início, fariam o acompanhamento. A lesão grave é encaminhada para a Uaderj, que busca a cirurgia na rede pública. “Isso é o mais difícil. O nosso foco é identificar os casos leves, que podem ser revertidos”.
Em seis meses, 50 médicos aderiram à campanha. O objetivo, agora, é expandir a rede para o interior do Estado. “Já estamos em conversas com São Paulo e queremos que esse seja um projeto nacional”, afirmou Solange.
O aposentado Rodolfo Mutzembecher Júnior, de 67 anos, é diabético há 46. Um acompanhamento minucioso, com controle da glicemia, garante que ele viva sem nenhum tipo de sequela. “Diabete não é doença, é uma disfunção. É preciso aprender a conviver com essa disfunção do pâncreas para ter boa saúde”, afirma ele, que faz o exame anual de fundo de olho.
O ator João Fernandes, de 12 anos, que atuou na novela Cordel Encantado, foi diagnosticado aos 4 anos. Ele também já faz o acompanhamento com oftalmologista. “Logo que fiquei diabético tinha um preconceito, algumas pessoas não me convidavam para festa porque não sabiam o que eu podia comer. Eu levo uma vida normal: estudo, faço handball, vôlei, danço hip hop e gravo a novela. É só fazer o controle da glicemia”, afirmou.
Clarissa Thomé