Pela primeira vez no Brasil, pesquisa aponta incidência de morte súbita na população da cidade de São Paulo: são 21 mil pessoas acometidas por esse mal a cada ano – a maioria delas (90%) em decorrência de problemas cardíacos.

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Grande parte poderia ser salva, se diagnosticada e tratada a tempo, com medicamentos e cirurgia de ablação. Cerca de 10 mil pessoas desse grupo, no entanto, teriam que ser submetidas à implantação de cardiodesfibrilador automático.

O estudo realizado em outubro de 2009, tendo como base também dados oficiais do Ministério da Saúde, referentes a 2007, teve a parceria do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas), ligada à SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), e Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular).

A partir dos números de São Paulo – que estão alinhados com o que acontece na maioria dos países -, estima-se que 212 mil pessoas sejam acometidas de morte súbita a cada ano, no Brasil, diz o cardiologista Martino Martinelli, coordenador da pesquisa.

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O trabalho é importante porque traz números confiáveis para embasar políticas públicas de saúde, visando a diminuir sensivelmente a ocorrência dessas mortes. “Sabemos agora que 21 mil pessoas morrerão desse mal, em 2010, por isso precisamos rapidamente identificá-las e tratá-las a tempo”, reconhece o médico do Instituto do Coração (SP).

Cardiodesfibriladores

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Na pesquisa ficou confirmado que a ocorrência de óbitos devido à morte súbita é superior às mortes causadas por diversos tipos de câncer e duas vezes maiores do que aquelas originárias em causas externas, como acidente, assassinato, envenenamento e suicídio, entre outras.

Na visão de Martinelli, embora o Brasil acompanhe a incidência mundial de morte súbita – que é de 0,11% da população, a situação do país não é confortável. Nos Estados Unidos, que tem uma população de 300 milhões de pessoas, são implantados por ano cerca de 20 mil CDIs (cardiodesfibriladores implantáveis) – aparelho acoplado ao coração para corrigir automaticamente arritmias malignas em pessoas com alto risco de morte súbita.

Para se ter uma idéia, segundo dados oficiais do Serviço Único de saúde (SUS), implantam-se por ano apenas 331 desfibriladores, na cidade de São Paulo. “Traduzindo: para cada 64 pessoas que necessitam do implante, apenas uma consegue ser submetida ao procedimento”, enfatiza o médico.

Para conter essas mortes é essencial, também, a presença de desfibriladores em ambientes de grande circulação de pessoas -como shoppings centers, escolas, clubes e estádios de futebol, entre outras praças de eventos -em número suficiente, com sinalização adequada e pessoal treinado para manuseá-los. Para o especialista, deve ser implantado, com relação aos desfibriladores, o mesmo conceito dos extintores de incêndio, que estão por todas as partes.

No entanto, não está só aí a solução. Pessoas salvas da morte súbita por um sistema de atendimento rápido com desfibrilador precisam ser tratadas imediata e continuamente.

“Um indivíduo acometido por arritmia maligna que não é tratado tem 90% de chance de sofrer novamente o distúrbio no prazo de cinco anos”, avalia o especialista. “E, nesse caso, pode ser fatal”, constata.

Sem fila de espera

Batimentos cardíacos acelerados e descompassados, falta de ar, tontura e desmaio. Estes são os principais sintomas de uma arritmia cardíaca, que pode ter como causa doenças do coração, como as que acometem as coronárias (infarto e suas consequências), as do músculo cardíaco (Doença de Chagas, miocardites e cardiopatia dilatada idiopática, entre outras) e as do sistema elétrico.

Segundo o médico, 90% das pessoas, inclusive esportistas e atletas, já tiveram arritmia cardíaca – grande ,parte delas benigna. “O que não imaginávamos, e a pesquisa mostra isso, é que um número tão grande de pessoas aparentemente saudáveis tem risco de arritmia maligna”, observa o cardiologista. Nesse caso, elas estão expostas a um evento fatal, diga-se de passagem, totalmente evitável, sem sabê-lo.

Outro dado de interesse do estudo é que, apesar do potencial risco da população para a morte súbita de origem cardíaca, não existem filas de espera no sistema público de saúde para implantação de cardiodesfibriladores – tratamento preferência de cerca de 50% dos casos de arritmias fatais.

Isso se deve, na opinião de 43% dos médicos entrevistados, a problemas de gestão do sistema, como falta de verbas e burocracia. Outros 37% acreditam que falta alinhamento, conhecimento e interesse do médico para encaminhamento do paciente.

Sintomas da morte súbita

* Dor no peito, irradiando-se para braços, pescoço ou costas
* Náusea
* Suor
* Palidez

Como socorrer

* Manter o paciente em repouso absoluto, em local ventilado
* Acalmá-lo da melhor maneira possível
* Acionar um médico imediatamente
* Solicitar com urgência uma UTI móvel

Como prevenir

* Evitar cigarro, bebida e comidas salgadas ou gordurosas
* Controlar o estresse
* Caminhar diariamente
* Passar anualmente por check-up cardiológico