Em 2001, a gaúcha Juliana Borges revolucionou o concurso para escolha da Miss Brasil, ao assumir publicamente que sua beleza foi retocada pelo bisturi. Ela passou por correção das orelhas, prótese de silicone nos seios, aplicações de colágeno no maxilar, maçãs do rosto e boca, lipoaspiração na barriga e nas costas e remoção de pintas no rosto, pescoço e abdome. Sem arrependimento, a jovem disse que não descarta passar por outras cirurgias. ?Se achar necessário?, diz.
É assim com quem sofre de dismorfia corporal, uma doença caracterizada pela preocupação excessiva com a aparência física. Diz-se que a doença pode ser explicada como um complexo que surge pela má interpretação de reflexos do espelho. O distúrbio exige tratamento com terapia especializada e, em alguns casos, até medicamentos. ?O importante é descobrir se a atenção que a pessoa dá ao seu corpo é normal, preocupante ou já virou doença?, avalia a psiquiatra Jocelyne Levy Rosenberg, autora do livro Lindos de morrer – Dismorfia corporal e outros transtornos obsessivos.
A médica destaca que, dificilmente, a pessoa que sofre da enfermidade consegue detectar o problema e, quase sempre, precisa da ajuda de amigos e familiares para identificar o distúrbio e buscar ajuda profissional. A especialista garante que há tratamento e, geralmente, os resultados são muito bons. ?A terapêutica inclui a associação de medicamentos e psicoterapia?, explica. Jocelyne Levy Rosenberg afirma que a maioria das pessoas afetadas pela doença são inteligentes, sensíveis e perfeccionistas, por isso, sofrem intensa e silenciosamente. Seja por não querer expor uma preocupação que possa parecer fútil aos outros ou por não perceber o que está acontecendo.
Apoio e compreensão
A enfermidade não faz distinção, afetando tanto homens quanto mulheres, a maioria adolescentes ou adultos jovens, não respeitando classes sociais. A dismorfia corporal pode ter incidência leve, moderada ou grave. Para se caracterizar como doença é necessário que a pessoa tenha sua auto-imagem alterada ou distorcida. De acordo com a médica, ela pode estar se achando muito gorda, quando na realidade seria apenas ?cheinha?. Pode estar se vendo apenas gorda, quando na realidade é normal, ou, ainda, pode estar se sentindo distante de algum padrão ideal de aparência física.
Na cultura ocidental atual, o conceito de beleza está associado à juventude, como se o belo fosse, necessariamente, igual a ser jovem. Vale tudo para emagrecer, embelezar, rejuvenescer, bronzear, esticar, aumentar ou diminuir. Por vezes essa incontrolável preocupação torna a pessoa prisioneira de uma rotina que acaba por prejudicar seus projetos de vida e a leva ao isolamento. Ela busca modificações de maneira perigosa, em detrimento de sua integridade física e emocional, interferindo em seus relacionamentos pessoais e afetando negativamente sua auto-estima.
Jocelyne Rosenberg destaca que a pessoa que apresenta distúrbios dessa natureza precisa do apoio de todos, e não deve ser julgada, rotulada ou rejeitada, quando parecer estar sendo fútil em relação a sua aparência, dando importância exagerada aos cuidados com o corpo, sendo escrava de dietas exageradas, ou apresentando hábitos que não entendemos. ?Elas, ao se isolarem, estão eliminando e matando seu verdadeiro eu, por isso precisam de apoio para recuperar o próprio sentido da vida?, conclui.