Lucimar do Carmo / O Estado do Paraná |
A correção de problemas na orelha evita traumas. |
De cada mil crianças nascidas, pelo menos uma apresenta defeitos congênitos que requerem intervenção de cirurgia plástica. O dado é da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que revela que, ao contrário do que acontece em adultos, as plásticas em crianças acontecem muito mais por questões de saúde física e mental do que por motivos estéticos.
Segundo o cirurgião plástico Laureano Nieto Caballero, do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, em Curitiba, os defeitos congênitos afetam principalmente a região da boca. As anomalias consideradas mais comuns são lábio leporino (quando a criança nasce com lábio aberto) e fissura palatina (quando nasce com o palato aberto). “As cirurgias plásticas para esses problemas devem ser realizadas a partir dos três meses de idade”, informa Laureano. “Isso porque tanto o lábio leporino quanto a fissura palatina podem causar problemas de fala e deglutição. Quando a cirurgia é feita cedo, a fala do paciente se torna quase que perfeitamente normal.”
Outros problemas podem ser verificados no nariz e nas orelhas. Na região do nariz, os incômodos mais freqüentes costumam ser septo desviado e asa nasal muito grande. Já na orelha, há crianças que nascem completamente sem orelha – precisando de cirurgia de reconstituição feita a partir de cartilagem retirada da costela – e orelha de abano (quando a orelha é bastante aberta). Nesses casos, as cirurgias são indicadas a partir dos sete anos de idade. “Aos sete anos, a criança inicia seu processo de socialização. Os problemas de nariz e orelha geralmente não causam doenças físicas, mas traumas psicológicos”, explica o cirurgião. “Podem causar grandes complexos na criança, fazendo com que ela se limite ao ambiente familiar e deixe de lado a convivência social.”
De acordo com o cirurgião plástico Renato de Freitas, também de Curitiba, a recuperação das crianças que passam por cirurgias plásticas costuma ser bem mais tranqüila e rápida que a de adultos. Na maioria das vezes, por mais que tenham medo do procedimento, meninos e meninas vítimas de problemas de boca, nariz e orelha desejam ser submetidas à cirurgia a partir dos cinco anos de idade. Isso porque normalmente elas enfrentam problemas na escola, sendo motivo de chacota para os coleguinhas.
Paciente
O estudante K. D., de 11 anos, nasceu com as orelhas inferiores ao tamanho normal. Sua mãe, a agricultora J. D., conta que o problema começou a incomodar logo que o menino entrou na escola. “Ele vai para a escola e os amigos começam a fazer brincadeiras e a colocar apelidos. Judiam muito dele e o deixam chateado”, revela a mãe.
No início deste ano, J.D. começou a procurar uma solução para o problema do filho. O garoto já passou por duas cirurgias plásticas e ainda deve enfrentar outras três, tendo as orelhas reconstituídas. “Ele está muito contente e vai para as cirurgias animado, sem medo”, diz. Na tentativa de esconder o problema, o estudante sempre usou o cabelo mais comprido que a maioria dos meninos de sua idade.