Tratar doenças, manter e recuperar a saúde, além de reequilibrar o organismo. Estas são as funções dos medicamentos fitoterápicos, aqueles remédios extraídos de plantas medicinais, encontradas em farmácias de manipulação, herbários, casas especializadas em plantas medicinais, casas de produtos naturais e, hoje em dia, até em supermercados, na forma de chás. Eles são apresentados nas mais diversas formas: chás, extratos vegetais, pomadas, tinturas e cápsulas.
No Brasil, conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para serem comercializados eles precisam de um registro – por isso precisam se submeter a diversos testes que comprovem sua eficácia e segurança (exceto os largamente usados no mundo e de acordo com a literatura científica). As plantas naturais prometem soluções para aliviar os sintomas de muitas doenças, além de combater efetivamente outras, como estresse, fadiga, expectoração, cicatrização de feridas, entre outros.
Amplamente testado
Tal conjunto de conhecimentos sobre o uso de plantas torna a fitoterapia uma opção para milhares de brasileiros que não têm acesso às práticas médicas oficiais, devido os altos custos, principalmente no que respeita a consultas médicas e medicamentos. Conforme o pesquisador botânico Ulysses Albuquerque, o conhecimento tradicional sobre o uso de plantas tem demonstrado sua eficácia e validade em muitos casos. No entanto, no seu entender, nem todas as práticas e receitas populares são eficazes, ?ao contrário, muitas podem ser altamente danosas à saúde?, relata.
Outra constatação do especialista é de que muitas pessoas substituem a receita do seu médico, sem qualquer orientação, por um remédio à base de plantas medicinais. As razões para tanto são, entre outras, a falta de recursos financeiros para adquirir medicamentos receitados, o medo de sofrer efeitos indesejáveis e a opção por medicamentos e consultas junto a especialistas populares. Albuquerque salienta que, muito embora se reconheça a legitimidade do conhecimento tradicional, uma planta para ser usada deve ser cientificamente validada.
?Todo teste clínico de um medicamento fitoterápico, deve ter a duração de, pelo menos 90 dias, para comprovar a sua eficácia?, alega Luís Carlos Marques, do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, especialista em produtos fitoterápicos da Universidade Estadual de Maringá. Ele comenta que, com o registro, muitos produtos que estão em fase de teste, podem sair da fase meramente popular para ganhar o status de medicamento científico. Para isso, terão que cumprir várias etapas, que vão desde a comprovação da sua atividade atribuída, passam pela avaliação dos riscos de seu uso, até a sua produção industrial.
Comprovação científica
Diante das carências financeiras, parece fora de dúvida que a fitoterapia é uma alternativa viável para a maioria dos brasileiros. Albuquerque registra que, se por um lado existe a necessidade de comprovação da eficácia de plantas usadas popularmente, por outro, é preciso reverter os conhecimentos adquiridos em benefício das pessoas e obter um maior envolvimento da classe médica. ?Apesar dos muitos estudos comprovando cientificamente as atividades atribuídas a muitas plantas, muitos profissionais de saúde possuem a concepção de que a fitoterapia nada mais é do que um conhecimento baseado na crendice popular?, reconhece.
Para se ter uma idéia da importância das drogas obtidas de plantas medicinais, mais de 120 substâncias extraídas dessas plantas são utilizadas em todo o mundo. Entre as mais importantes estão a digitalina (cardiotônico), emetina (amebicida), escopolamina (sedativo), vimblastina e vincristina (antitumorais). Justamente em função disso devem ser incentivadas pesquisas na área, uma vez que o Brasil é um país privilegiado em termos de biodiversidade.
Fito é uma coisa, homeo é outra
As pessoas relacionam produtos fitoterápicos com os homeopáticos, acreditando que ambos são sinônimos. Esta inverdade confunde a cabeça do consumidor, que ainda é bombardeado diariamente com uma enxurrada de desinformações. Criada pelo pesquisador e médico alemão Christian Samuel Hahnemann, a homeopatia surgiu há mais de dois séculos. Ele acredita que um desequilíbrio físico e mental é capaz de ser curado naturalmente associando o uso de substâncias naturais diluídas (Lei do Semelhante). Hahnemann percebeu que a associação dessas substâncias pode ser combatida pelo próprio equilíbrio do organismo.
A homeopatia se utiliza do reino animal, vegetal e mineral enquanto na fitoterapia somente o reino vegetal está envolvido. A fitoterapia usada como prevenção está se difundindo não apenas no Brasil, mas em países europeus como Alemanha, França e Itália. Tem se revelado um mercado em expansão com o objetivo de melhorar o cotidiano das pessoas que almejam uma vida mais equilibrada com a natureza.
Ervas do bem, ervas do mal
A utilização das plantas para o tratamento de doenças saiu do âmbito do empirismo, onde, dentro do contexto histórico se manteve durante um bom tempo, e hoje ganha status de ciência. A fitoterapia científica é uma temática multidisciplinar que engloba agronomia, farmácia, enfermagem, medicina, química, entre outras áreas. Mesmo sendo poucos os profissionais com especialização em plantas medicinais e fitoterapia, esse mercado vem crescendo gradualmente no Brasil e no mundo, aumentando a necessidade de capacitação na área.
A busca das pessoas em conviver com hábitos mais saudáveis faz com que os produtos naturais ganhem força, por exemplo, no mercado farmacêutico. O que antes era visto como cultura popular vem se solidificando no combate a diversos tipos de doenças.
Baixo custo
Produtos a base de espinheira santa, boldo, arnica, malva, camomila, melissa, sene e ginseng já dividem a atenção nas prateleiras com medicamentos alopáticos. As plantas medicinais constituem solução para diversos problemas de saúde, como estresse, fadiga, expectoração, cicatrização de feridas, entre outros. Além de serem mínimos ou quase nulos os riscos de efeitos colaterais, apresentam um custo inferior para o consumidor.
Devido ao controle mais rigoroso em suas inspeções e as pesquisas científicas comprovadas ao longo dos anos, a indústria dos fitoterápicos ganha força e credibilidade. Mas cabe lembrar que, como todo medicamento, deve ser usado com cautela e seguido de orientação médica. De acordo com o professor de Fitoterapia Antônio de Bortoli, é preciso que o profissional que indique os fitoterápicos seja capacitado para isso. ?Algumas plantas são tóxicas, até mesmo podem causar risco de morte. Outras interferem nos tratamentos alopáticos modificando os medicamentos. Podem torná-los tóxicos, potencializar determinada substância ou até mesmo anular o componente ativo?, enfatiza.
Outro cuidado importante para o uso dos fitoterápicos, citado por Bortoli, é a qualidade do produto. A planta deve ser de boa procedência. ?Não usar jamais plantas medicinais vendidas em esquinas?, adverte.
Não parece, mas a legislação é rigorosa
Apesar de o Brasil ser considerado celeiro do mundo em variedades de espécies vegetais, há poucos produtos fitoterápicos genuinamente brasileiros registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas a falta de registro não impede o grande consumo de remédios caseiros à base de plantas, num país em que uma parcela considerável da população não tem acesso a medicamentos. O uso tradicional das sementes da planta não é controlado pela Anvisa, mas elas contêm substâncias que estimulam o sistema nervoso central e, quando transformadas em extrato dão origem a um medicamento fitoterápico, que precisa ser aprovado pelo órgão do Ministério da Saúde para ser vendido. É assim também com outros derivados de plantas. Segundo Edmundo Machado Netto, técnico da Anvisa, "o fitoterápico é um medicamento como outro qualquer, a única característica própria é que ele só pode ter como componente ativo aquele que vai funcionar no medicamento, um princípio vegetal?, explica.
Suplementos alimentares
Desde 1995, as regras para os fitoterápicos ficaram mais rígidas. No final deste ano termina o prazo para que os produtos atendam às novas determinações de padronização dos medicamentos. Estão liberados dos novos critérios os fitoterápicos produzidos a partir de uma lista com 34 espécies de plantas mais conhecidas e estudadas pela ciência que podem pedir o registro simplificado. Entre elas, há apenas 3 plantas nativas do Brasil: guaraná, espinheira-santa e guaco (veja características abaixo). O consumidor ainda encontra muitos produtos irregulares nas prateleiras e, para fugir do rigor da legislação, muitos produtos são vendidos como suplementos alimentares. Os que conseguiram regularizar a situação junto ao Ministério da Saúde (MS) devem ter a expressão fitoterápico e ter no seu rótulo o número de inscrição no MS. Independente de as regras da Anvisa serem ou não muito rígidas é preciso tomar cuidado ao comprar plantas medicinais e fitoterápicos.
Guaco, a erva do pulmão
Quem nunca ouviu falar que o guaco é um santo remédio contra tosse, asma ou bronquite? As receitas caseiras preparadas com suas folhas são ainda mais lembradas no inverno, época em que aumentam os problemas respiratórios. Um bom sinal é que a ciência já comprovou os efeitos broncodilatador e expectorante dessa trepadeira de caule fino. Além de ser conhecido como a erva do pulmão, o guaco possui ação antiinflamatória e cicatrizante, conforme atestam diversos estudos.
Nomes científicos: Mikania glomerata e Mikania laevigata.
Nomes populares: guaco, erva-de-cobra, cipó-catinga, coração-de-jesus.
Partes usadas: folhas e caule.
Origem: Sul do Brasil.
Espinheira-santa, uma força para o estômago
A espinheira-santa é capaz de facilitar a vida de quem tem gastrite, úlcera e complicações no sistema digestivo. A planta despertou a atenção de cientistas paranaenses nos anos de 1920. E, desde a década de 1970, vem provando seu valor nos testes feitos em renomados centros de pesquisa brasileiros. A ?força? da espinheira está no maetanino, substância presente nas folhas. Ele que ajuda o estômago quando o volume de suco gástrico diminui, equilibrando a acidez. A única contra-indicação é para mulheres grávidas ou que estão amamentando.
Nome científico: Maytenus ilicifolia.
Nomes populares: espinheira-santa, espinho-de-deus, maiteno e salva-vidas.
Partes usadas: folhas.
Origem: Sul e Sudeste do Brasil.
Guaraná, um símbolo nacional
O guaraná em pó é um produto com propriedades medicinais, sendo utilizado para combater as enxaquecas, como sedativo, tônico cardiovascular, diurético, regulador das funções intestinais e também por conter três vezes mais cafeína que o café, é considerado estimulante das funções fisiológicas. O guaranazeiro é uma espécie vegetal da família das sapindáceas, nativa da Amazônia, cujo nome provém do termo indígena ?varaná?, que significa árvore que sobe apoiada em outra. O guaraná normalmente é comercializado de cinco formas diferentes: rama, pó, bastão, concentrado e xarope.
Nome científico: Paullínia cupana.
Nomes populares: guaraná.
Partes usadas: frutos.
Origem: Norte do Brasil.