Na medicina, quando uma nova droga é descoberta faz-se um tipo de teste chamado duplo-cego, onde se escolhe um grupo de pessoas com determinada doença, no qual se espera que a nova droga faça efeito. Em seguida, aleatoriamente, metade das pessoas toma a nova droga e a outra metade um placebo (um comprimido de farinha e açúcar). Nem os médicos nem os pacientes sabem quem está tomando placebo ou a nova droga, daí o nome duplo-cego. No grupo que tomou o placebo algumas pessoas também apresentam melhoras ou curas, dependendo da doença. O que aconteceu? O simples fato de a pessoa pensar que está tomando uma droga que curará seu problema faz com que a doença se retraia. Até mesmo a ciência já reconhece esse poder no placebo.
Para Gerson Zafalon, presidente do Conselho Regional de Medicina, a frase: Primum non nocere (Antes de mais nada, não cause danos) – princípio atribuído a Hipócrates, o Pai da Medicina, esclarece a questão. Ou seja, tudo aquilo que o médico escolher como importante para o seu paciente deve ter a preocupação primeira em não lhe prejudicar. Assim, os placebos utilizados nas pesquisas médicas de forma consciente poderão trazer benefícios aos pacientes.
Efeitos comprovados
Assim, alguns conceitos, tidos como verdadeiros mesmo sem comprovação científica, vão passando de geração em geração com certa validade. Um deles diz que, se o paciente não confia no médico ou no tratamento, mesmo que ele tome os melhores remédios os efeitos são reduzidos. Outro diz que, se o paciente confia no tratamento, mesmo que esteja tomando um placebo, ele produz efeitos animadores.
Muitos são os relatos de casos em que a administração de placebo ajudou na recuperação de pacientes, mesmo de doenças graves, como câncer e parkinsonismo. Para esta doença, um estudo recente realizado no Canadá confirmou a eficácia do placebo. Os doentes que utilizaram a substância inativa registraram um aumento substancial na liberação da dopamina, o que neste tipo de doentes não é regular. Os autores da investigação salientam até que o efeito placebo poderá ser ainda mais importante do que se pôde avaliar nesses últimos anos.
Muitas pessoas que ingerem, por exemplo, uma pílula contendo nada mais que amido com açúcar, ou um dos dois componentes, revelam melhoras de uma doença, imaginando ter tomado o remédio desenvolvido especialmente para essa doença. O que se discute a respeito dos placebos, é que quando eles são utilizados na clínica torna-se evidente a falta de um atributo na relação médico-paciente: a confiança na relação profissional. Zafalon, nesses casos, admite que o melhor caminho é esclarecer ao paciente qual é o mal que o aflige e as conseqüências que certos medicamentos podem acarretar. ?Se o paciente não apresentar nenhum sinal de doença, o melhor a fazer é explicar isso a ele?, garante.
Esperança, fé e oração
O tema placebo é um dos mais fascinantes e, ao mesmo tempo, mais discutidos entre a classe científica. Com todo o conhecimento que a ciência possui atualmente, o placebo, todavia, é um mistério e todos os artigos escritos a esse respeito são bastante incompletos. Seu bom ou mau uso pode custar uma vida, principalmente por seus efeitos e funcionamento serem pouco conhecidos. Para a comunidade científica, conhecer o placebo, suas possibilidades e seus efeitos, é fundamental.
A palavra placebo vem do latim e provém da Bíblia cristã. Depois de vários erros de tradução, hoje, a definição que encontramos é que se trata de uma substância inerte e inativa, a qual se atribui certas propriedades, como a cura de enfermidades e que, quando ingerida, pode produzir um efeito que suas propriedades não justificam. Mas, o efeito placebo não existe somente como uma substância. ?Estudos cientificamente programados atestam que a fé, orações e esperança propiciam algum tipo de melhora?, reconhece Zafalon. Pelo menos, até que os milagres e as curas milagrosas não sejam comprovados, atuam como um placebo.
Segundo os trabalhos do médico Jerome Groopman, ?a esperança não cura, mas pode dar ânimo ao paciente para que ele continue a lutar pela sua melhora e o placebo pode ser considerado uma prova biológica do poder da esperança?.
