A decisão da Comissão de Ética do governo regional do Piemonte de permitir pela primeira vez na Itália experiências com a pílula abortiva Ru-486, conhecida como a “pílula do dia seguinte”, desencadeou uma violenta polêmica entre organizações e católicos de direita e esquerda, além da reação indignada da Igreja Católica.

A pílula, que será testada no hospital Santa Ana de Turim, já é usada em vários países europeus, além dos EUA, Austrália, China e Índia, permitindo a interrupção da gravidez com substâncias químicas e sem intervenção cirúrgica, atuando após a fixação do óvulo fecundado no útero.

Apesar da existência de uma lei em vigor há 25 anos autorizando abortos terapêuticos, o novo procedimento encara uma forte oposição por parte da Igreja Católica e grupos conservadores italianos. O ministro da Saúde Pública, Girolamo Sirchia, condenou energicamente a medida, afirmando que “a derrota da mulher e da sociedade nasce no momento em que se decide o aborto”.

“A supressão da vida por meio mecânico ou com instrumento químico não altera o problema”, ressaltou Sirchia. O cardeal de Turim, Severino Poletto, definiu a iniciativa como “um fato funesto, e não uma conquista”, conclamando a cidade a “salvar sua dignidade”. “Turim pode alardear grandes êxitos científicos em favor da vida e deve ser lembrada por sua história de humanidade e progresso científico, contrapondo-se à cultura da morte”, afirmou.

Venda proibida no Brasil

Segundo o Dr. Achiles Machado Cruz, ginecologista, obstetra, cirurgião do Hospital Alvorada (São Paulo), a pílula abortiva RU-486 não é conhecida como pílula do dia seguinte. “Ela é composta por uma substância que interrompe a gravidez até 15 dias após o coito. Essa pílula tem venda proibida aqui no Brasil, justamente por isso.”

“A pílula do dia seguinte, na verdade, é composta por hormônios (estrogênio e progesterona), em grande quantidade, que se tomada até 2 dias depois da relação sexual, pode impedir a gravidez, não interromper. É importante esclarecer que a pílula do dia seguinte verdadeira, não é considerada abortiva pela classe médica e pelo Ministério da Saúde, pois a sua principal e mais eficiente atuação está em retardar ou impedir que o óvulo saia do ovário e seja fecundado nas trompas. Por esta razão, ela tem venda liberada no Brasil”, afirma o ginecologista.

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