Pesquisadores norte-americanos descobriram porque a enxaqueca piora com a luminosidade. Pela primeira vez, estabeleceram uma relação direta entre células da retina sensíveis à luz e neurônios que desempenham um papel essencial na percepção da dor durante as crises. A descoberta foi publicada na revista “Nature Neuroscience” e pode ajudar na busca de terapias para diminuir a fotofobia – repulsa à luz – dos pacientes.

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Rami Burstein, da Universidade Harvard, percebeu como muitos cegos que tinham enxaqueca também desenvolviam fotofobia durante as crises. A exceção ficava por conta de quem perdera o globo ocular ou o nervo óptico, o que impossibilita completamente o envio de sinais sensitivos para o cérebro. Burstein formulou então uma hipótese. A piora na enxaqueca deveria ser causada pela detecção da luz através de canais que não captam a imagem, mas apenas a luminosidade.

Havia uma suspeita: no fundo da retina, existem neurônios especiais conhecidos como células ganglionares. Alguns deles possuem sensibilidade à luz graças a um pigmento chamado melanopsina – o que só foi descoberto em 2002. Não servem para formar imagens, mas avisam o cérebro quando é dia ou noite, mesmo com as pálpebras fechadas. Também controlam a dilatação da pupila. Se a hipótese de Burstein estivesse correta, explicaria porque pessoas cegas, mas com as células ganglionares intactas, desenvolvem fotofobia durante crises de enxaqueca.

Para verificar a ideia, os cientistas usaram ratos e fizeram testes que envolveram microscopia e dissecações. Eles comprovaram que algumas células ganglionares sensíveis à luz lançam conexões até uma região do cérebro conhecida como tálamo. Durante as crises de enxaqueca, o tálamo recebe sinais de dor e os redistribui para o cérebro. Os cientistas mostraram que as conexões vindas da retina produzem um fluxo de sinais elétricos que atinge justamente as células do tálamo que recebem os impulsos dolorosos da enxaqueca.

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Os impulsos que chegam dos olhos amplificam, em menos de um segundo, os sinais de dor, que são redistribuídos pelo tálamo às demais regiões do cérebro, agravando a sensação de náusea, fadiga e irritabilidade. Depois que a luz se apaga, os neurônios da retina demoram alguns minutos para cessar o envio de estímulos.