“Meus sintomas pré-menstruais começam uns dez dias antes da menstruação. Fico muito irritada e agressiva, consequentemente, a minha vida profissional e afetiva passa por períodos difíceis”, declara a secretária executiva C.F.S, de 31 anos.
Essa pode ser considerada uma queixa básica, comum à maioria das mulheres. Esse sentimento pode ser confirmado por uma recente pesquisa mundial, que apontou que perto de 90% das mulheres afirmaram sofrer com pelo menos um sintoma pré-menstrual.
Além disso, mais de 70% disseram que a tensão pré-menstrual (TPM) afeta as relações com os parceiros e familiares, 60% constataram que os sintomas afetam as suas atividades diárias e domésticas e 65% que o problema interfere no desempenho profissional. Para o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate, esses dados merecem uma reflexão abrangente.
O grau de maturidade individual da mulher pode influenciar a resposta à TPM que se manifesta de formas e intensidades diferentes. “Aquelas com perfil mais imaturo e egoísta tendem a ter reações de natureza agressiva e se sentem mais facilmente irritadas e impacientes”, reconhece o médico.
Para ele, isso acontece comumente com as mulheres que costumam reagir com muita revolta quando contrariadas. “A tendência é que esse tipo de comportamento faça com elas tenham crises de TPM mais frequentes e mais intensas, pois sentem o desconforto e são menos tolerantes a eles”, constata o especialista.
Três estágios
Já nas mulheres com perfil mais maduro e que são geralmente mais fáceis de lidar, os sintomas são outros. A pesquisa comprovou que elas sofrem mais com depressão, angústia, desânimo e retraimento social. Em ambos os casos, a intensidade da TPM está relacionada à interferência das variações hormonais no funcionamento da serotonina, neurotransmissor cerebral que tem relação direta com esses distúrbios.
“Esses casos são comuns na mulher após os 30 anos, pois os sintomas da TPM somam-se a outros conflitos internos, de natureza social ou emocional”, admite Gikovate.
O ginecologista e especialista em transtorno pré-menstrual Carlos Alberto Petta explica que, geralmente os sintomas da TPM aparecem de sete a dez dias antes da menstruação e desaparecem poucos dias após seu início. A intensidade dos sintomas classifica o transtorno em três estágios: leve, moderado e severo.
A forma mais severa é conhecida como Síndrome Disfórica Pré-Menstrual (SDPM) e apresenta impacto negativo na qualidade de vida da mulher, afetando as relações e atividades sociais e a produtividade profissional.
“O diagnóstico é confirmado quando a paciente apresenta pelo menos cinco sintomas físicos ou emocionais, sendo um deles obrigatoriamente emocional, em pelo menos cinco ocasiões no período de 12 meses”, explica Petta.
Não é doença
Não há dados brasileiros oficiais, mas, nos Estados Unidos, estima-se que 4,5 milhões de mulheres sofram de TPM, sendo que 90% delas convivem com os desconfortos da síndrome sem qualquer tipo de tratamento ou diagnóstico. Nos países em que as mulheres se preocupam com tais problemas, o distúrbio está relacionado com o aumento dos gastos com saúde, pois se torna motivo frequente para a visita ao médico e ausência no trabalho.
A ginecologista Giani Cezimbra esclarece que a TPM não é uma doença, mas um estado caracterizado por conjunto de sinais e sintomas. “Já a SDPM, síndrome que atinge cerca de 8% das mulheres, as deixa tão transtornadas que elas se tornam passíveis de cometer atos de agressividade contra qualquer pessoa, como colegas de trabalho, marido, filhos, familiares e amigos”, observa.
Na opinião da ginecologista, combater o estresse e manter hábitos saudáveis contribui bastante para atenuar os efeitos da TPM. Caminhadas regulares e a prática de esportes, além de promoverem o bem-estar e a saúde, melhoram o fluxo sanguíneo, eliminam líquidos e reduzem o estresse, situações que ajudam a agravar o problema.
Consenso Latino-Americano
Um grupo de pesquisadores da América Latin,a publicou o Consenso Latino-Americano sobre Tensão Pré-menstrual – síndrome pré-menstrual que só passou a ser reconhecida pela medicina na década de 1980.
O diagnóstico da Síndrome Disfórica Pré-Menstrual (SDPM), a forma mais severa da TPM, deve ser feito a partir do acompanhamento mensal dos sintomas da paciente, sendo obrigatoriamente cinco sintomas físicos e um emocional. A síndrome, em todas as suas formas, apresenta sintomas similares a outros distúrbios, como cefaléia, ansiedade e depressão, o que pode dificultar a investigação e o tratamento adequado.
Quanto às opções de tratamento, elas podem classificadas de duas formas: intervenções não-medicamentosas e farmacológicas. A primeira inclui alterações do estilo de vida, atividade física, modificação na dieta e acompanhamento psicológico.
Já as opções farmacológicas, incluem tratamentos similares aos usados para a depressão, com a prescrição de ansiolíticos e inibidores da seratonina. Nos últimos anos, pesquisas apontam que os anticoncepcionais combinados orais também se revelam uma importante opção para o tratamento da síndrome.
Sintomas físicos
* Fadiga
* Dor de cabeça (cefaléia)
* Inchaço nos pés e nas mãos
* Dor nas mamas
* Distensão abdominal
* Cólicas
* Alteração do apetite
* Alteração do sono (aumento do sono ou insônia)
Sintomas emocionais
* Irritabilidade
* Depressão ou desespero
* Ansiedade e tensão
* Tristeza repentina
* Choro
* Raiva e fúria
* Oscilações súbitas de humor
* Dificuldade de concentração
* Baixa auto-estima
* Desinteresse nas atividades habituais
* Falta de energia
* Dores nas articulações e nos músculos