O hemodinamicista Stefan Wolanski Negrão, do Hospital São Vicente de Paula, de Guarapuava, venceu recentemente o 1.º Prêmio Jovem Pesquisador promovido pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI). O médico apresentou um trabalho de pesquisa durante o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, realizado em Goiânia. O estudo avalia a eficácia de um stent recoberto com celulose biossintética comparado ao stent metálico convencional.
Segundo o presidente da SBHCI, Ronaldo da Rocha Loures Bueno, o prêmio teve por objetivo estimular a pesquisa, revelar talentos e investir em profissionais que se destaquem na área científica. ?Queremos encontrar, encorajar e oferecer suporte científico e financeiro a jovens pesquisadores promissores, com potencial para contribuir para o futuro da especialidade?, destacou.
A pesquisa do médico guarapuavano foi feita em parceria com médicos do Hospital Evangélico Universitário de Curitiba. Negrão explica que a celulose biossintética usada para revestir o stent é um tecido perfeitamente biocompatível, utilizado em várias áreas da medicina, principalmente com propósitos reconstrutivos. Apesar disso, conforme o hemodinamicista, seu uso em procedimentos endovasculares nunca havia sido avaliado.
Por enquanto, em coelhos
Nos testes, efetuados até aqui em coelhos, os novos stents não apresentaram nenhum tipo de efeito adverso. ?Na verdade, quatro semanas após seu implante na artéria ilíaca dos animais, foi obtido um resultado melhor que os obtidos com stents convencionais?, garantiu Stefan Negrão. Com efeito, a celulose biossintética apresenta o importante potencial de agir como uma barreira à migração de células musculares lisas e promover a liberação local dos medicamentos. ?Isso representa uma promissora estratégia na prevenção e tratamento da re-estenose?, avalia.
A utilização definitiva da nova técnica ainda depende de inúmeros testes, mas, de acordo com o médico, provavelmente se tornará mais uma opção para tratar as insuficiências coronarianas ou a volta de suas obstruções. Sem contar que a tendência da disseminação da técnica fará com que os preços, muitas vezes proibitivos dos stents utilizados até então, diminuam de maneira considerável.
A evolução do stent
Estima-se que sejam implantados no Brasil 30 mil stents, uma minúscula prótese de aço colocada no interior das artérias obstruídas, por ano. Cerca de 70% deles são pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Há quase 30 anos, a angioplastia experimentou um salto importante, especialmente após o advento do stent. Esse desenvolvimento se tornou ainda maior com o advento do stent revestido com medicamento, que ajuda a diminuir os casos de reincidência das obstruções. Um exemplo significativo dessa técnica foi a angioplastia, realizada pelo médico Costantino Costantini, que implantou esse tipo de stent no jogador de futebol Washington, do Atlético Paranaense, com absoluto sucesso.
A estrutura chega ao ponto da obstrução por meio do cateterismo. O percurso do cateter até os locais lesionados é controlado pelo cardiologista intervencionista com auxílio de equipamentos de ultra-som. A versão tradicional do stent apresenta bons resultados, mas, de acordo com estimativas dos especialistas, seis meses após o procedimento, cerca de 20% das pessoas, em média, volta a ter estreitamento da coronária, também conhecido por re-estenose.
No Brasil, o custo da prótese revestida é 3 a 4 vezes superior ao da convencional, cujo valor oscila de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00, freqüentemente coberto pelos planos e seguros de saúde. O SUS, porém, ressarce apenas a utilização do stent sem medicamento e a briga da SBHCI é para que um número maior de pacientes tenha acesso à nova prótese, mais cara, mas, por outro lado, muito mais efetiva.
Diversos estudos demonstram o impacto econômico das sucessivas consultas e reinternações do paciente para tratar as complicações decorrentes da re-estenose, forçando nova angiografia ou cirurgia. Impacta, também, nas condições de vida dos pacientes, levando-os a ausentarem-se do trabalho e adotar limitações que não mais fazem parte da vida daqueles beneficiados pelos stents revestidos.