A insuficiência cardíaca congestiva vem aumentando muito nas últimas décadas e estima-se que em 2010 ela seja uma doença epidêmica, mas no futuro haverá novas formas de tratamento: as fármaco-genéticas. A previsão é de uma das maiores celebridades no assunto, o Prof. Dr. Naranjan S. Dhalla, Diretor do Instituto de Ciências Cardiovasculares do Centro de Pesquisas do Hospital Geral St. Boniface da Faculdade de Medicina da Universidade de Manitoba, no Canadá. Ele proferiu conferência sobre os rumos da pesquisa cardiovascular no mundo durante o I Workshop Internacional sobre Pesquisa Cardiovascular, promovido pelo Laboratório LIBBS Farmacêutica, no último dia 19 de setembro, em São Paulo, que reuniu mais de 50 pesquisadores brasileiros na área de cardiologia.
Realizado com o objetivo de promover o intercâmbio entre os principais centros de excelência da área cardiovascular no Brasil e no Exterior, o evento teve ainda a participação de duas personalidades de grande importância no cenário nacional: o Prof. Dr. José Antonio F. Ramires, Diretor da Divisão de Cardiologia Clínica do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas) e Professor Titular de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Prof. Dr. Michel Batlouni, Diretor do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo e Professor de Pós-graduação em Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O Dr. Ramires, que coordenou os trabalhos do Workshop, descreveu para os participantes a trajetória da pesquisa cardiovascular no Brasil e o Dr. Batlouni falou sobre os avanços da terapêutica farmacológica relacionada às doenças cardiovasculares.
Em sua conferência “Prevenção de Alterações Moleculares em Insuficiência Cardíaca pelo Bloqueio da Angiotensina”, o Dr. Dhalla mostrou que na insuficiência cardíaca há mais do que apenas a modificação do tamanho e da forma do coração: há mudanças significativas no interior das células cardíacas, ou seja, alterações moleculares e genéticas. E, para reverter essas modificações, será necessário descobrir quais são elas e, assim, através do uso de medicamentos fármaco-genéticos, atacar o cerne do problema, salvando vidas.
No laboratório do Centro de Pesquisas do Hospital Geral St. Boniface, no Canadá, foram estudadas as células cardíacas de ratos. O pesquisador demonstrou que, usando um inibidor da ECA (enzima conversora da angiotensina) por um período de 40 semanas, houve uma melhora genética nas células cardíacas. Mas, apesar de ser um efeito positivo parcial, esse é o primeiro passo de uma pesquisa que pretende descobrir uma droga (ou uma combinação de drogas) capaz de devolver as características anteriores das moléculas e dos genes das células cardíacas. “Esse será um trabalho para os jovens médicos e pesquisadores”, definiu Dr. Dhalla.
Na abertura do evento, o Prof. Ramires falou sobre a importância em investir na pesquisa cardiovascular no País. Segundo ele, “o Brasil possui uma expressiva produção científica na área de saúde, mas que não se traduz em forma de valores. A quantidade de patentes registradas está muito aquém do nosso potencial. Devemos trabalhar para que a riqueza intelectual seja incorporada à riqueza real do País”. O cardiologista Dr. David P. Brasil, integrante do Comitê Organizador do evento, também foi enfático: “O trabalho de pesquisa, preventivo e por vezes interventivo, dos nossos profissionais da área cardiovascular está trazendo maior expectativa de vida e qualidade de vida para a sociedade brasileira. Mas isso ocorre num momento em que a incidência da doença cardiovascular e de suas conseqüências mais diretas, a incapacitação física e a mortalidade, vêm aumentando a passos largos tanto no Brasil como no mundo, por conta de um estilo de vida predominantemente urbano e sedentário, que torna a população bastante suscetível a uma série de fatores de risco cardiovascular. São essas ocorrências que pretendemos evitar com a pesquisa”.
Quem é Dr. Naranjan Dhalla
Mundialmente reconhecido por sua liderança na pesquisa cardiovascular, o Prof. Dr. Naranjan S. Dhalla dedicou toda sua vida ao ensino e à pesquisa das doenças cardiovasculares e treinou centenas de cardiologistas de vários países que hoje ocupam posição de destaque na pesquisa mundial. Recebeu aproximadamente 60 prêmios e honrarias, incluindo a Ordem do Canadá, a mais elevada distinção concedida pelo Canadá. Suas pesquisas enfocam atualmente áreas distintas do conhecimento cardiovascular: Doença Cardíaca e Diabetes, Doença Isquêmica do Coração, Hipertrofia Cardíaca e Insuficiência Cardíaca Congestiva. Foi secretário geral e presidente da Sociedade Internacional para Pesquisas do Coração (ISHR) e, desde 1996, ocupa a posição de diretor executivo da prestigiosa Academia Internacional de Ciências Cardiovasculares (IACS). É autor de vários livros e centenas de artigos na área da pesquisa cardiovascular.
