O Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, comemorou ontem a realização do centésimo transplante pediátrico de fígado. Com menos de quatro anos de funcionamento, o Serviço de Hepatologia e Transplante Hepático da instituição já é considerado referência nacional no segmento, responsável por 25% de todos os transplantes do órgão em crianças do Brasil.
A menina Jéssica de Souza Silva, de 11 anos, foi a centésima transplantada e passou pela cirurgia há 38 dias. A família descobriu que ela tinha o problema há um ano e o irmão dela, de 20 anos, decidiu ser o doador. “Antes a dor era grande e agora estou feliz”, afirma Jéssica. A mãe da menina, a dona de casa Maria Lopes da Silva, explica que a felicidade está em todos os cantos de sua casa. “Quando descobrimos que ela estava doente, o mundo caiu. Não sabia nada sobre os procedimentos e me desesperei”, lembra. “Eu nunca imaginei vê-la tão bem como está hoje”, avalia Maria.
Com as dificuldades envolvendo a doação de órgãos, 90% das cirurgias utilizam doadores vivos, normalmente familiares do paciente. Um pedaço do fígado é tirado do doador, pois é o único órgão do corpo humano a se regenerar.
O médico Júlio Wiederkehr, chefe cirúrgico da equipe de transplante hepático do Pequeno Príncipe, conta que em alguns casos somente o transplante trará a cura. “Em outras situações, a doença culmina na necessidade de um novo órgão”, comenta.
Segundo dados do hospital, 60% dos pacientes precisam da cirurgia por causa de doenças congênitas, que surgem no desenvolvimento do bebê ainda dentro do corpo da mãe. “Uma das principais doenças deste tipo é a atresia de vias biliares, quando não há a formação correta dos canais de bile (substância que participa da digestão). Existe o acúmulo no sangue, levando a criança a ficar amarela, com déficit no crescimento e propícia à infecções”, afirma Wiederkehr.
Há quinze dias, a equipe do hospital realizou o transplante em Gustavo, um bebê de três meses que tinha uma doença congênita. A criança está internada na UTI pediátrica do Pequeno Príncipe e se recupera bem. Ele é o menor paciente brasileiro submetido a um transplante.
Além das doenças congênitas, cerca de 30% dos casos são causados por vírus ou tumores e outros 10% devido à hepatite A. “Na maioria das vezes, a hepatite A não causa grandes problemas, mas pode levar à destruição do fígado”, aponta o médico. “O que mais assusta é que tanto a versão benigna quanto a grave podem ser prevenidas com vacinação”, justifica Wiederkehr.