O caminhoneiro Matheus de Moura começou a perder o fôlego aos 27 anos. De uma hora para outra, deu para ficar com faces arroxeadas ao menor esforço. Havia desenvolvido fibrose pulmonar, doença que endurece e atrofia os pulmões. Deixou o trabalho pesado e nos últimos meses já não conseguia andar nem tomar banho sozinho.

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Aos 31 anos, o mineiro de Itajubá tornou-se o primeiro brasileiro a receber pulmões recondicionados. Saiu da fila de transplantes, depois de dois anos de espera, graças a uma técnica utilizada pelo Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, que devolve ao pulmão a capacidade de oxigenar o sangue. Sem o procedimento, o órgão seria descartado por não estar dentro dos padrões para um transplante regular.

A técnica, criada na Suécia e usada em países como Canadá e Estados Unidos, é a grande esperança para reduzir a fila de transplante de pulmão, órgão que mais rapidamente se degenera nos pacientes com morte cerebral – condição que permite o transplante.

“Temos muita dificuldade de obter pulmão. Grande parte dos pacientes com morte cerebral doa rim e fígado, mas o pulmão se deteriora. Entre 90% e 95% dos casos não conseguimos utilizá-lo”, afirmou o professor Fábio Jatene, coordenador do Programa de Transplante de Pulmão do Incor, instituto ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Desde maio, o Incor tem autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para aplicar a técnica.

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O pulmão não pode ser usado quando o doador sofreu um trauma, como quando a costela perfura o órgão; se tem infecções, como pneumonia; ou se tem excesso de líquidos. Por exemplo: quando o paciente recebe muito soro, a fim de estabilizar a pressão e manter os rins em funcionamento, esse líquido acaba infiltrando os pulmões.

O órgão a ser transplantado é retirado em bloco – os dois pulmões e parte da traqueia – e ligado a uma cânula, por onde é injetada uma solução protegida por patente. A solução, mais densa do que o líquido que congestiona os pulmões, circula pelos vasos e “atrai” esse líquido pelo processo químico da osmose. “Dessa forma, enxuga o pulmão”, explica Jatene. Ao fim do processo, que pode levar de duas a seis horas, o pulmão recupera a capacidade de oxigenar o sangue. No caso de Moura, o órgão ficou cinco horas na máquina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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AE