Cerca de 70% das amputações realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) ocorrem em pessoas portadoras de diabetes. Uma das principais complicações enfrentadas por quem sofre dessa doença é o chamado pé diabético.
Se as lesões não forem diagnosticadas e tratadas precocemente, podem levar à amputação dos membros inferiores. A maioria dessas amputações poderia ser evitada a partir do diagnóstico precoce e de cuidados básicos.
São diversos tipos de lesões que aparecem nos pés de pacientes e que podem levar às alterações severas na sensibilidade e na circulação sanguínea dos membros inferiores.
“Essas lesões podem ser reduzidas em mais de 85%, se o paciente realizar adequadamente um controle preventivo e intensivo”, garante Ana Cristina Lima Brandini, técnica em podologia e responsável pelo Serviço de Orientação ao Pé Diabético da Fundação Pró-Renal.
O pé diabético é uma das decorrências das alterações anatomopatológicas do diabete mellitus e pode ter como origem alterações neurológicas e vasculares que produzem feridas.
Essas lesões, evoluídas pela falta de cuidados adequados, provocam, em média, conforme dados do Ministério da Saúde, mais de 15 mil amputações. O número não inclui cirurgias para retirada de dedos necrosados, realizadas ainda em maior quantidade. A situação é tão grave que o Ministério Público está intervindo nos estados para que eles realizem ações de esclarecimento sobre as conseqüências da doença.
Vigilância
Para os portadores de diabetes, os cuidados com as extremidades inferiores merecem atenção especial. Como são vulneráveis a ferimentos, é preciso observar e investigar quaisquer alterações nos pés todos os dias.
De acordo com a podóloga, isso deve ser um hábito, principalmente para aqueles que sofrem de neuropatia (lesões nos nervos causadas pelos altos níveis de açúcar no sangue).
Responsáveis pela sensibilidade, os nervos dos pés permitem que as pessoas sintam dor, temperatura e o contato com o chão. Quando esses nervos são lesados pela evolução da doença, a pessoa perde a sensibilidade e corre o risco da amputação.
A Sociedade Brasileira de Diabetes estipula que os portadores de diabetes devem ser examinados pelo menos uma vez ao ano por especialistas. Essa vigilância torna-se necessária porque, normalmente, surgem cortes, calos, bolhas nos pés, sem a pessoa sentir. Isso representa um agravante para que a doença evolua sem que o paciente perceba.
“O número de amputações vem crescendo no país, não só pelo não-controle da doença, mas pela falta de informação”, aponta Rosa Sampaio, coordenadora da Política Nacional de Diabetes e Hipertensão do Ministério da Saúde.
As úlceras nos pés começam a partir de cortes superficiais e deformidades, associados à perda da capacidade de cicatrização. “Os portadores de diabetes precisam ter consciência de todos os riscos da doença e, além dos cuidados diários, devem se submeter constantemente a um acompanhamento médico”, completa a coordenadora.
Principais cuidados
* Enxugar bem os dedos para evitar fissuras, micoses e outras doenças infecciosas
* Calçar sapatos macios, forrados, que não tenham saltos ou bicos finos
* Usar meias de algodão, que facilitam a respiração da pele
* Evitar curativos que possam prejudicar o tratamento
* As unhas dos pés devem estar bem cortadas, com as pontas retas
* Não cortar ou remover calos sem ajuda de especialistas
* Outras conseqüências da doença, como cegueira, insuficiência renal, hipertensão arterial, infarto do miocárdio e problemas de circulação, também merecem atenção especial
Fácil identificação
O médico americano Mazen Bader esclarece que as bactérias, c,omo estafilococo e estreptococo beta hemolítico, são os agentes mais comuns dos problemas encontrados nas extremidades inferiores dos portadores de diabetes. O especialista alega que tais distúrbios ocorrem quando os pacientes não são tratados como deveriam.
“O diagnóstico da infecção do pé diabético é baseado em sinais e sintomas clínicos de inflamação local”, reconhece. Assim, diante do quadro, os ferimentos com infecção devem sempre ser manipulados por médicos e o material enviado para cultura para que sejam identificadas quais são as bactérias que estão infectando o pé do paciente.
São necessários também exames radiológicos, “pois a infecção pode ter atingido áreas mais profundas da perna, de partes moles até, inclusive, osso”, alerta o especialista.
Segundo Bader, não há necessidade de antibióticos para úlceras não infectadas. Já. infecção leve de partes moles pode ser tratada eficazmente com antibióticos orais, incluindo dicloxacilina, cefalexina e clindamicina; infecção grave de partes moles pode ser tratada inicialmente por via intravenosa com ciprofloxacina mais clindamicina.
Além disso, o risco de infecção por estreptococo resistente à meticilina, um problema de saúde pública importante, deve ser considerado quando da escolha de um regime que associe vários medicamentos.