Parar de fumar. Para quem não é fumante, parece ser tarefa fácil. É só parar e pronto. Mas não é bem assim. Para quem alimenta este hábito, seja por costume, dependência ou mesmo motivado por aquela desgastada impressão de elegância que foi atribuída ao ato de fumar, não é uma decisão simples de fazer. Quantas histórias conhecemos de pessoas que largaram o cigarro por alguns dias e depois voltaram? Mas, nem tudo são derrotas. Também existem aqueles que conseguiram se livrar do tabagismo para nunca mais voltar.
A principal substância ativa encontrada no tabaco – matéria prima que dá origem ao cigarro – é a nicotina, poderoso estimulante do sistema nervoso central. Com o início do consumo dessa substância, o cérebro exige quantidades cada vez maiores, e isso explica porque as pessoas tornam-se viciadas. Apenas na fumaça do cigarro existe mais de 4.770 substâncias tóxicas, como nicotina, alcatrão, monóxido de carbono e até radioativas, como polônio e cádmio, que também são encontradas nas baterias de carros.
Substâncias psicoativas
Conhecer os efeitos do cigarro, as etapas a serem superadas e as vantagens da cessação do vício proporciona melhorias para o organismo. |
O tabagismo, doença caracterizada pelo vício ao cigarro, foi conceituada pelo Código Internacional de Doenças (CID) como sendo um grupo de transtornos mentais e de comportamento. “São decorrentes do uso de substâncias psicoativas – drogas de atuação sobre o sistema nervoso central”, explica o pneumologista do Frischmann Aisengart, Roberto Rodrigues Junior.
Os danos trazidos pelo cigarro são inúmeros. Após a tragada, a fumaça leva sete segundos para chegar ao cérebro e há aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Após três meses o vício já está instalado e há a diminuição progressiva do olfato e paladar. Engana-se quem se acha capaz de parar de fumar quando quiser.
De acordo com o pneumologista Sérgio Ricardo Santos, para que o fumante mude o seu comportamento, é preciso que ele conheça os benefícios da cessação do fumo. “A compreensão do seu vício à nicotina e os riscos causados à saúde e à qualidade de vida é fundamental”, avalia.
Apesar de saber que o tabagismo é prejudicial à saúde e a principal causa de morte evitável segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fumante se depara com uma ambivalência nos momentos que antecedem a decisão de deixar de fumar. Os questionamentos mais percebidos nos consultórios médicos são: vale a pena abandonar o cigarro? Se eu fracassar terei uma recaída? Como será ficar sem cigarros? Elas permeiam a mente de grande parte dos fumantes que estão dispostos a seguir em frente com esse objetivo e mudar de vida.
Crise de abstinência
Existe uma rotina a ser seguida. “Começar a discutir as vantagens e as desvantagens da mudança é o primeiro passo, propor uma mudança vem em seguida”, reforça o pneumologista. Ainda segundo o especialista, devido às dificuldades físicas e emocionais que a ação acarreta, a decisão de parar de fumar envolve três fases: negação, contemplação e preparação.
A negação é a primeira fase, marcada pela não aceitação do fumante de que ele possui um vício. “Nesse momento, entra a avaliação dos pontos positivos e negativos da mudan&cce,dil;a de atitude. Quando ele começa a se propor a mudar, chega à segunda fase, que é a contemplação”, resume Sérgio Santos. A preparação é a terceira: quando a pessoa está pronta para um novo comportamento.
Após passar por essas fases, começa o verdadeiro desafio: superar a temida síndrome de abstinência. Ao deixar de fumar, o dependente da nicotina sofre sinais e sintomas intoleráveis, como dor de cabeça, irritabilidade, dificuldade de concentração, compulsão para voltar a fumar, tremores nas mãos e aumento do apetite, entre outros. “É nesse momento que surgem as cobranças de amigos e da família que, ao invés de ajudarem, podem enfraquecer a decisão”, alerta o pneumologista.
Melhora gradativa
A determinação de quem está disposto a parar de fumar é um passo importante, porém, recorrer ao apoio dos familiares, amigos e de profissionais é fundamental para o sucesso da cessação do tabagismo. Dados da OMS revelam que fumantes que tentam parar de fumar sem ajuda médica têm menor chance de sucesso (uma média de 5%). Mesmo entre os que conseguem largar o cigarro, apenas de 0,5% a 5% mantêm a abstinência por um ano sem apoio médico.
A adesão ao tratamento é fundamental. Parar de fumar pode exigir esforço do fumante, mas está longe de ser uma missão impossível. Logo nos primeiros dias após a cessação já dá para sentir uma melhora generalizada, que vai aumentando gradativamente e ocupando todo o organismo. “São conquistas que valorizam uma maior dedicação”, completa Sérgio Santos.
Doenças associadas ao vício
Câncer: o fumo é responsável por 30% das mortes por câncer e por 90% dos casos de câncer de pulmão
Doenças coronarianas: 25% dos casos de angina e infarto decorrem do fumo.
Doenças cerebrovasculares: 25% dos casos de derrames cerebrais se associam ao fumo
Doenças pulmonares: em 85% dos casos a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) está relacionada ao uso do cigarro.
Outras doenças: aneurismas arteriais, úlceras digestivas e infecções respiratórias estão também ligadas ao tabagismo.
Nas mulheres: o fumo ainda pode afetar a fertilidade. Além disso, aumenta a possibilidade de parto prematuro e abortamento e implica em menor crescimento do feto.
Benefícios sem fim
Aos 20 minutos após parar de fumar: a pressão sanguínea diminui, a pulsação cai e a temperatura das mãos e pés aumentam;
Em 8 horas: os níveis de nicotina e de monóxido de carbono caem pela metade os de oxigênio aumentam e atingem os valores normais;
Em 24 horas: o monóxido de carbono é eliminado pelo corpo, os pulmões começam a limpar o muco e outros resíduos do cigarro e a chance de um ataque cardíaco ou infarto diminui;
Em 48 horas: não há mais nicotina no corpo, as terminações nervosas recomeçam a crescer e a capacidade de sentir cheiro e sabor melhora;
Em 72 horas: respirar fica mais fácil;
Após 2 semanas a 3 meses: a circulação melhora, fica mais fácil caminhar e a função pulmonar melhora em até 30%;
Após 1 a 9 meses: a tosse, congestão dos seios nasais, fadiga e falta de ar diminui;
Após 1 ano: o risco de doença cardíaca coronariana diminui para a metade do de um fumante;
Após 5 anos: o risco de derrame reduz ao nível das pessoas que nunca fumaram;
Após 10 anos: os riscos de câncer de pulmão, de boca, garganta, esôfago, bexiga, rins e pâncreas reduzem, assim como a incidência de úlcera;
Após 15 anos: o risco de doença cardíaca coronariana é semelhante às pessoas que nunca fumaram e o de morte retorna a um nível próximo de pessoas não fumantes