São Paulo – Até agora, com base em pesquisas feitas principalmente nos Estados Unidos, sabia-se da existência de três grupos de risco do câncer de próstata: os homens com mais de 50 anos, os que têm algum parente com a doença e os negros. Um estudo, no entanto, indica que a pele negra pode não ter influência nos casos de câncer de próstata registrados no Brasil. Um levantamento, que está sendo conduzido pela seccional São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-SP) e será concluído no mês que vem, ouviu desde agosto cerca de 1.400 homens que têm esse tipo de câncer no Estado de São Paulo. É o primeiro estudo epidemiológico sobre a doença feito no País.
Os números mostram que, no Brasil, o câncer de próstata é muito mais freqüente entre os brancos. Dos homens com a doença em São Paulo, 86% são brancos e só 12% são negros e pardos. ?A diferença entre os EUA e o Brasil talvez seja explicada pela origem étnica dos negros que foram para lá e dos que vieram para cá. Além disso, os hábitos alimentares são diferentes nos dois países?, diz o urologista Stênio de Cássio Zequi, um dos coordenadores do estudo.
O levantamento ouviu homens de todos os níveis sociais: 45,62% eram pacientes da rede pública de saúde, 43,55% foram atendidos por meio de convênio médico e 10,24% eram pacientes de consultórios particulares. Segundo Zequi, porém, é necessário fazer pesquisas mais abrangentes para chegar a uma conclusão segura sobre a relação entre câncer de próstata e cor da pele no Brasil.
A próstata é o órgão responsável pela produção do esperma. O principal sinal do câncer é o inchaço do órgão, o que provoca uma pressão contra a bexiga e a uretra e leva ao sintoma clássico, que são alterações na micção. A incidência é maior a partir dos 50 anos, por isso a necessidade de exames anuais a partir dessa idade.
Segundo o estudo paulista, o índice dos doentes com menos de 50 anos é de 2%. É o tipo de câncer que mais afeta os homens no Brasil e o segundo em número de mortes. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o País têm 46 mil homens com câncer de próstata. A doença mata 9.200 brasileiros por ano. Em quantidade de mortes, fica atrás apenas do câncer de pulmão.
Diagnóstico precoce
Outro dado da pesquisa da SBU-SP que chama a atenção é referente ao estágio da doença quando o médico foi procurado. Em quase 80% dos casos, ela estava na fase inicial, quando o tumor na próstata ainda não se espalhou para outras partes do corpo. Nesse estágio, são grandes as chances de cura. Grande parte procurou o urologista espontaneamente (35,87%) e por encaminhamento de outro médico (33,73%).
Para a médica Gulnar Azevedo e Silva, coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, o diagnóstico precoce é sinal de que a população tem mais consciência da doença hoje. ?Os homens já têm mais medo do câncer de próstata do que do câncer de pulmão?, afirma.
Campanha
O deputado baiano que ficou famoso em março por subir à tribuna da Assembléia Legislativa e discursar cheio de revolta contra o exame de próstata reviu seus conceitos. Após dizer que ?viu estrelas? enquanto o médico o examinava e que saiu ?deflorado? do consultório, o Sargento Isidório (PT) agora faz campanha sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata.
Ele distribuiu milhares de folhetos em que aparece saindo de uma clínica de urologia. Um balão traz o conselho: ?Toque retal não tira a masculinidade de ninguém. Eu já fiz o meu exame. Faça também o seu?.
A mudança de opinião ocorreu depois que foi bombardeado por críticas e até ameaças de processo. Ele ainda apresentou um projeto de lei para criar na Bahia um ?programa de orientação psicológica? sobre a necessidade do toque retal, visando a diminuir o preconceito. ?Não tem campanha para usar camisinha? Não tem campanha para mulher casar com mulher e para homem sentar no colo de homem? Por que não pode ter campanha para o exame de próstata??, ironiza ele, que é evangélico.