?No meu tempo não era assim. As crianças eram mais obedientes, um só olhar já bastava para pôr as coisas no seu devido lugar. E se reclamasse era castigo na certa. ? Não existe quem nunca tenha ouvido frases como estas. Mas, por que será que o tal olhar não funciona nos dias de hoje? Será que os pais de antigamente eram tão diferentes dos de hoje? Para a psicóloga, especializada em educação infantil, Cecília Brito, muitas coisas se modificaram, influindo nessa relação.
Entre elas, a especialista destaca as modificações sociais e econômicas que repercutiram na maneira como as famílias passaram a se organizar. A crescente presença das mulheres no mercado de trabalho, a gama de informações e a rapidez com que os acontecimentos vão surgindo também influenciam na forma de educar as crianças. Nesse contexto, Cecília explica que o relacionamento ideal é aquele que tenta alcançar o equilíbrio. ?Ou seja, é necessário encontrar um limite justo e que seja bom para ambas as partes?, frisa.
Limites demarcados
A psicóloga reconhece que existiam algumas vantagens, mas também desvantagens na educação anterior à nossa. Se, por um lado, havia mais respeito, valorização da moral e dos bons costumes, por outro, o excesso de rigidez levava pais e filhos a tornarem-se quase inimigos. As gerações anteriores reclamam da maneira rígida como foram criadas e do desejo de educarem os filhos com maior liberdade e proximidade. ?Já os pais de hoje, em contrapartida, tornaram-se íntimos demais, esquecendo de que uma criança precisa saber qual é o seu lugar no contexto familiar?, define. Esse lugar é construído a partir de limites estabelecidos e também de direitos adquiridos, através do diálogo e de alguns espaços compartilhados. É fundamental que os pais reconheçam que ser pai e mãe é diferente de ser amigo, embora a amizade seja fundamental na relação entre pais e filhos.
A mestre em Educação Tânia Zagury diz que satisfazer as necessidades das crianças é uma obrigação dos pais, mas é preciso distinguir claramente o que é uma real necessidade daquilo que, na verdade, constitui apenas uma atitude derivada da própria incapacidade de julgar. ?Por estar subjugados ao consumismo, à competitividade exacerbada da nossa sociedade, ao individualismo e aos próprios medos e frustrações, os pais também passam isso aos filhos?, ressalta.
Amizade e confiança
A educadora diz que ser pai é educar a criança colocando limites, dialogar, ensinar valores e ensinar o que é certo e o que é errado, é servir de exemplo. A criança precisa aprender que há coisas que são permitidas e outras proibidas. A amizade é algo compartilhado com outros sujeitos, embora também seja fundamental no contexto familiar. ?Os pais devem ser o melhor amigo de seus filhos, mas sabendo que o papel de pai e mãe devem ser bem demarcados?, frisa. Assim como os pais precisam de um espaço só deles, de momentos de troca a dois, as crianças devem ter um mundo que seja delas, sem a interferência dos adultos.
Para Cecília Brito, educar uma criança não é como colocar ingredientes da melhor qualidade para que o produto final saia perfeito. A criança se desenvolve a partir das relações estabelecidas no seu meio cultural, sendo ativa no processo de construção do conhecimento. Os pais e educadores devem ser mediadores nesse processo de construção. ?Não vamos ter a ilusão de que, ao criarmos uma criança da melhor forma possível, não haverá erros, pois, ser pai, mãe e educador é um aprendizado que requer paciência, dedicação, cuidados, muito amor, perseverança, disciplina e compreensão?, completa.
Regras para não se arrepender mais tarde
– Nunca prometa o que não pode cumprir.
– Não busque nos brinquedos caros uma compensação para a sua ausência.
– Dê o seu melhor exemplo.
– Use o bom senso para impor limites.
– Cumpra seus compromissos.
– Mostre indignação diante de coisas erradas.
– Mostre como é importante ser organizado.