A maioria das mães ainda não sabe, mas além do já tradicional teste do pezinho, responsável por identificar doenças genéticas graves, um outro exame passa a ser fundamental nos primeiros dias de vida do bebê: a triagem auditiva neonatal, conhecida como o teste da orelhinha. ?O exame detecta nas primeiras 48 horas de vida do bebê se existe algum problema de audição e os resultados são cem por cento garantidos?, afirma Alessandra Graciosa, especialista em fonoaudiologia hospitalar da Maternidade Curitiba.

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Segundo a fonoaudióloga, estatísticas do Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância apontam que em cada mil bebês, pelo menos três têm algum tipo de alteração. Esse número é maior em casos de recém-nascidos, que passam pelas unidades de terapias intensivas. ?Os pais demoram a perceber que o bebê pode ter alguma alteração auditiva. Na maioria dos casos, o distúrbio só é percebido a partir dos três anos, quando a criança pode apresentar ausência ou atraso no desenvolvimento da fala?, explica a especialista.

No Paraná, o exame, conhecido por emissão alto acústica, se tornou obrigatório em todas as maternidades. Conforme a coordenadora do Programa de Triagem Auditiva do Hospital Santa Cruz, Cristiane Pineroli Bochnia, o teste investiga as condições do ouvido interno da criança. Em caso de alguma perda, o bebê passa por outras baterias de testes específicos para identificar algum distúrbio. Depois disso, pode ser necessária a adoção de um tratamento de recuperação, que pode incluir o uso de aparelhos ou a necessidade de próteses auditivas. ?Nessa fase é possível melhorar e até mesmo recuperar a audição em quase 100% dos casos", afirma Luiz Carlos Alves de Sousa, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia.

Déficits de aprendizado

O ?teste da orelhinha? é realizado em uma sala exclusiva e sem ruídos, sem trazer qualquer tipo de incômodo para o bebê, inclusive com ele dormindo. A coordenadora explica que uma espécie de fone é colocado no ouvido do bebê, emitindo estímulos sonoros que chegam ao seu ouvido interno. A resposta a estes estímulos indica a inexistência de comprometimentos. ?Esse teste não mede o nível de audição do bebê?, salienta Cristiane Bochnia, completando que os recém-nascidos que passam por UTIs neonatais têm mais chances de sofrer tais complicações. ?Estimativas apontam, nesses casos, a prevalência de 1 caso para cada 50 bebês?, completa.

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De acordo com especialistas, o teste indica que a criança não nasceu com problemas. Contudo, nada impede que uma criança com dois anos, por exemplo, após uma queda, tenha perda na audição. Também podem levar às perdas auditivas as infecções constantes e os ruídos muito fortes, como as bombinhas das festas juninas.

A deficiência auditiva é uma das maiores preocupações dentro das salas de aula e atingem cerca de  10 a 15%  das crianças em idade escolar. De acordo com o coordenador da Campanha Nacional de Saúde Auditiva, Oswaldo Laércio Cruz, a deficiência auditiva durante a infância tem um efeito devastador, pois sempre resulta em  déficits na recepção e expressão da linguagem, que compromete o desempenho das  funções cognitivas, emocionais, sociais e comunicativas da criança. ?Nesses casos, o uso de aparelho  deve ser encarado como algo tão comum quanto o uso dos óculos. Isto precisa ser  desmistificado", finaliza.

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Dados estatísticos relevantes:

* Estima-se, que no Brasil de 3 a 5 crianças em 1.000 nascem surdas.

* 50 a 75%  das deficiências auditivas podem ser detectadas ainda no berçário  por meio da triagem auditiva (teste  da orelhinha).

* 7 a 12 % de  todos recém-nascidos têm, pelo menos, um fator de risco para deficiência auditiva.

* Quando o  recém-nascido apresenta complicações neonatais e precisa de internação em UTI,  cerca de um em cada 50 apresenta algum déficit.

* 10 a 15%  das crianças em idade escolar são portadoras de deficiência auditiva leve. 2% são portadoras de deficiência auditiva que exigiriam o uso de aparelhos de amplificação sonora.