Daniele de Fátima Santos não agüentou ver sua filha Natália, de dois anos, sofrer tanto com resfriados, ?sapinhos? e conjuntivites. ?Abandonei o meu trabalho no salão de beleza e fico em casa para cuidar dela?, conta. De acordo com a pediatra, especialista em homeopatia, Ivonete Vitória Bitencourt Ducci, a condição de vida atual obriga os pais a tão difícil decisão. Para ela, o ideal é que as mães convivam com a criança até os três anos de idade. ?É bom que a criança se desenvolva dentro do ambiente da casa, inclusive que receba o leite materno como único alimento até aos seis meses de idade?, avalia.
Creche ou babá?
Escolher entre os dois serviços é delicado e a decisão deve levar em conta a tranqüilidade dos pais, mas, principalmente, a segurança e o bem-estar do bebê. Tanto a babá quanto a creche oferecem vantagens e desvantagens que devem ser analisadas cuidadosamente. Por isso, o ideal é que os pais pensem nesse assunto antes mesmo que o bebê venha ao mundo, com tempo para decidir com segurança.
Se a escolha foi pela creche, o pediatra Gilberto Pascolat, avalia que quanto mais tarde isso acontecer, melhor. ?Além de ficarem mais suscetíveis às doenças devido a sua baixa imunidade, essa opção prejudica os horários de aleitamento?, lembra o médico, reconhecendo que, precocemente, o leite materno vai sendo substituído por outros alimentos. Com efeito, aumentam as chances de a criança sofrer diarréias, infecções respiratórias, em especial a pneumonia, otite média e outros tipos de alergias.
Atenção e carinho
Segundo a pediatra Maria Clara Barbosa, com a licença-maternidade de apenas quatro meses (uma lei tramita no Congresso Nacional ampliando este prazo para seis meses) e das pressões para que a mulher contribua com o orçamento doméstico, os aspectos psicológicos acabam influenciando nas questões emocionais da criança. Dos seis meses aos dois anos de idade, aproximadamente, ela passa por uma fase conhecida por ansiedade da separação. ?É o processo de individualização, em que ela começa a se reconhecer como pessoa e a identificar os outros?, explica a médica. Ao freqüentar uma creche desde muito cedo, a criança pode ter esta ansiedade mais prolongada e de difícil resolução.
Os pais, até hoje, ainda sofrem com o mito da socialização precoce, ou seja, a crença de que a criança que entra na creche cedo tenderia a ser menos mimada e mais social. Para Maria Clara, isso é uma grande bobagem. ?Mesmo uma criança maior, de um ano, um ano e meio, ainda interage pouco com os outros?, ressalta. Conforme a especialista, depois dos dois anos, a creche realmente é interessante pelos estímulos que propicia à socialização. Antes disso, enfatiza a especialista, a criança não precisa de creche, e sim da atenção de uma pessoa que cuide dela e lhe dê carinho.
A creche ideal
Pais informados e participativos podem controlar a qualidade dos serviços ofertados.
Abaixo uma lista com os 10 itens mais importantes para a escolha da creche ideal.
* A instituição deve conceder acesso permanente aos pais, antes, durante e após a fase de adaptação.
A transparência de uma creche é a única garantia de sua qualidade.
* O cardápio deve ser organizado por um nutricionista, de forma balanceada e de acordo com a faixa etária da criança, respeitando as individualidades.
* As atividades devem respeitar as horas de sono da criança, permitindo que ela ?tire uma soneca? na hora que desejar. O dormitório deverá estar localizado em área limpa, arejada e, principalmente, tranqüila.
* As crianças devem ter espaço para banhos de sol.
* Tanto as salas de aula quanto as áreas comuns devem ter ambientes que minimizem os acidentes. Caixas de areia devem ser cobertas ao término do horário de funcionamento e a areia revolvida e lavada a cada 15 dias.
* Os funcionários devem trabalhar com a verdade. Nada pode ser escondido dos pais, desde um tombo até um caso de meningite, que devem ser assumidos e comunicados.
* A creche deve seguir um programa de promoção de saúde, elaborado por uma equipe técnica formada por pediatra, nutricionista, psicólogo e dentista.
* A instituição deve realizar um trabalho de formação e reciclagem dos funcionários.
* A creche deve cuidar da saúde de recreadoras, professoras e atendentes, entre outros, verificando se estão em dia com exames e vacinas.
* Por fim, a creche deve ter uma função pedagógica associada às ações de saúde preventiva.
Fonte: Elizabeth Costa, pediatra; Carlos Djahdjah, dentista; e Maria Lúcia Lara, pedagoga.
Estimulando o convívio social
A grande vantagem da creche é que os funcionários são treinados especialmente para cuidar de crianças. Eles também são cuidadosamente supervisionados, o que ameniza um pouco o maior temor dos pais: descobrir que o filho está sofrendo maus-tratos. Sempre haverá várias pessoas cuidando do bebê, o que inibe qualquer ação negativa por parte de um funcionário menos preparado.
Além disso, a convivência com outras crianças da mesma faixa etária pode ser muito boa para a criança que se adaptará melhor a novas situações. Com brincadeiras e atividades, a creche também pode estimular o desenvolvimento da criança de acordo com a faixa etária.
Por outro lado, o bebê não terá uma pessoa dedicada apenas a ele, será preciso dividir a atenção do adulto com outras crianças. Ambientes como os de uma creche ou berçário, onde muitas crianças passam o dia no mesmo recinto, também são mais propensos à proliferação de doenças e infecções.
Por esse motivo, a criança poderá adoecer mais. É bom lembrar que as creches preferem que a criança fique em casa se estiver doente e, desta forma, os pais terão que arrumar alguém para ficar com ela ou pedir dispensa do trabalho.
Caso esta seja a sua opção, procure uma creche próxima ao seu trabalho, especialmente se morar em uma grande cidade, onde o trânsito costuma ser um empecilho. As escolas têm horário rígido de funcionamento e você não poderá se atrasar para buscar seu filho.