De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer mata anualmente cerca de 140 mil pessoas no Brasil. Se descoberta em estágio inicial, a doença pode ter cura com a utilização de tratamentos de radioterapia e quimioterapia. Entretanto, quem passa por esse tipo de tratamento pode perder a capacidade reprodutiva. A alternativa possível é procurar técnicas de congelamento. ?O congelamento de espermatozóides, óvulos ou embriões permite preservar a fertilidade. Com esse processo, as chances do casal ter filhos são maiores?, explica o ginecologista da área de Reprodução Humana e diretor do Centro de Reprodução Humana Curitiba, Dr. Ricardo Beck.
Segundo o médico, a quimioterapia e a radioterapia são abortivas e podem debilitar a pessoa, levando à perda da fertilidade. ?Ter filhos após um câncer é possível, porém depende do risco que o câncer terá para a gestação. Em alguns casos não é recomendado gestar?, ressalta ele. Existem casos, ainda, em que a mulher desenvolve ou descobre um câncer durante a gestação. Nesse caso, como o sistema imunológico sofre uma baixa, é difícil conduzir uma gravidez, pois a recuperação depende de cada pessoa. ?Se durante a gestação for usada alguma medicação agressiva, há chances da criança nascer com alguma complicação. Já se a mãe passar por um procedimento cirúrgico é mais raro ocorrer esse tipo de problema?, esclarece. ?Quando a mãe se recusa a interromper essa gestação, o tratamento é adiado?, explica.
As chances de cura são menores para alguns tipos de cânceres que comprometem a sobrevida da pessoa. ?A cura do câncer só é dada após 10 anos de acompanhamento e, dependendo da idade em que se encontra, não há tempo de a mulher ter uma gestação em idade segura. Na grande maioria dos casos, somente com as técnicas de reprodução será possível obter êxito?, salienta o Dr. Ricardo.
Mas não são apenas as mulheres que têm riscos de infertilidade após um câncer. Os homens também devem recorrer às técnicas que preservam sua capacidade reprodutiva. ?Quando há a retirada do testículo e o paciente passa por um tratamento como a quimioterapia ou radioterapia é importante que, antes disso, faça o congelamento de sêmen caso ele queira ter filhos?, considera o urologista Dr. Fernando Lorenzini, do Centro de Reprodução Humana Curitiba.
No câncer de próstata, quando há a remoção total da próstata e das vesículas seminais (que produzem o líquido seminal), o homem continua a ter orgasmo, porém não ejacula. Nesses casos pode ser feita a coleta dos espermatozóides, que estão no epidídimo (situado sobre os testículos, onde ocorre o transporte e maturação dos espermatozóides), para preservar a fertilidade. ?O mesmo deve ser feito por quem é tratado do câncer de bexiga, com retirada da bexiga, próstata e vesículas seminais?, comenta o urologista.
O Dr. Lorenzini observa que as chances de voltar a ser pai são grandes pelas técnicas de reprodução. ?O homem pode se recuperar e ter filhos de forma natural se continuar a ejacular e, caso contrário, poderá ter filhos pelo congelamento de sêmen, via técnicas de reprodução assistida, ressalta. ?O tempo para que volte a ter a capacidade de reprodução é incerto: depende dos aspectos individuais e do tipo de medicamentos e tratamentos realizados. Mesmo que tenha se submetido à quimioterapia ou radioterapia, pode voltar à sua capacidade reprodutiva, porém o tempo pode ser de até 20 anos ou mais, sempre mantendo o acompanhamento médico para tanto?, alerta.
Técnicas de congelamento
A técnica de congelamento para preservar a capacidade reprodutiva usada no Centro de Reprodução Humana Curitiba (CRHC) é a vitrificação. O CRHC conta há nove anos com a técnica de criopreservação e é pioneiro no Paraná na vitrificação, desenvolvida especialmente para congelar embriões e óvulos, que são menos resistentes que o sêmen. A vitrificação é uma técnica na qual se faz um resfriamento rápido, não dando chance para a formação de cristais de gelo no interior das células, reduzindo, dessa forma, a perda do material. Já para o sêmen é utilizada a técnica básica da criopreservação, que consiste no congelamento gradual em nitrogênio líquido, que começa com a temperatura ambiente até ser totalmente congelado.
Depois de congelados, os materiais são guardados em contêineres de nitrogênio líquido, divididos em recipientes com paletas coloridas. ?Em cada paleta é colocado o material do paciente separadamente, sempre nomeado e numerado. Além disso, o material congelado pode ser mantido por tempo indeterminado, sem perigo de ser danificado?, explica a bióloga do Centro de Reprodução Humana, Elisângela Böhme.
O processo para engravidar é descongelar os óvulos, que foram preservados com as técnicas de congelamento, e em seguida fazer a fertilização invitro. ?O mesmo se faz com espermatozóides, no caso dos homens. Quando o casal tem embriões congelados, eles são transferidos após um preparo do endométrio, tecido que recobre a cavidade do útero?, explica Dr. Ricardo.
