Uma doença pouco conhecida tem afetado seriamente a vida de mulheres em idade fértil, principalmente jovens e adolescentes. Considerada no meio científico a patologia endocrinológica mais expressiva em mulheres em idade reprodutiva, a síndrome dos ovários policísticos recebe esse nome porque os primeiros estudos mostraram que, entre outros aspectos, as pacientes apresentam diversos cistos nos ovários.
O ginecologista Hélcio Bertolozzi Soares explica que, a cada mês, o organismo da mulher seleciona alguns óvulos, mas apenas um deles se desenvolve, enquanto os outros regridem, podendo se transformar em microcistos. O problema começa quando esses microcistos provocam um espessamento do revestimento do ovário. Com isso, há uma dificuldade na liberação dos óvulos e acontece a retenção dos mesmos, provocando distúrbios hormonais e menstruais. “Geralmente, a síndrome aparece durante a época reprodutiva, sendo mais freqüente em mulheres com mais de trinta anos e deve ser tratada à base de medicamentos para induzir a ovulação”, recomenda.
Segundo o médico Mauri José Piazza, professor da Universidade Federal do Paraná, a portadora da síndrome não ovula com a mesma freqüência das outras mulheres. A sua causa ainda é desconhecida, mas pode haver uma predisposição genética associada a um estilo de vida. Sob esse aspecto, conta a idade da primeira gestação, o número de filhos, o uso de contraceptivos. Situações que podem aumentar ou diminuir a chance de a mulher sofrer do distúrbio. Outros sintomas da síndrome são o aumento na produção do hormônio masculino androgênio e, conseqüentemente, o aumento dos pêlos no corpo, além de ganho de peso e surgimento de estrias.
Doença não impede a gravidez
Os sintomas, de acordo com o médico Ademir Carvalho Leite Júnior, com especialização no Departamento de Endocrinologia e Metabolismo da Universidade da Vírginia, nos Estados Unidos, alteram tanto o estado físico como a auto-estima das mulheres. A manifestação clínica mais comum da doença é alteração do ciclo menstrual. Em seguida, o aumento de pêlos, que se concentram em áreas como buço, costeletas, queixo, ao redor dos mamilos, entre os seios e na linha baixo do umbigo. Outro sintoma é a acne, que se mostra muito resistente aos tratamentos dermatológicos convencionais. Algumas pacientes apresentam queda de cabelo e, às vezes, calvície. A infertilidade, que ocorre em 50% dos casos diagnosticados, e a obesidade são outros sinais.
Os médicos admitem que ter ovário policístico é uma situação mais comum do que as mulheres imaginam. O problema é que a maioria associa a questão a uma das causas da infertilidade. Um grande erro, pois ter ovário micropolicístico, na explicação dos especialistas, não necessariamente impede a gravidez. Para Mauri Piazza, a questão a ser respondida para o início do tratamento é se a mulher tem intenção ou não de engravidar. Se a resposta for positiva, o especialista recomenda um tratamento sob orientação médica, que induza à ovulação. Os resultados são animadores. Em cerca de 80% dos casos o ciclo ovulatório é restabelecido. O especialista ressalta que o tratamento não cura definitivamente a doença. “Os sintomas podem voltar quando a medicação for suspensa”, atesta.
Segundo Leite Júnior, as mulheres que ignoram a doença têm sete vezes mais chances de desenvolver problemas cardiovasculares. O mesmo ocorre em relação a diabetes e tumores de útero e de mama. O tratamento básico da síndrome consiste em melhorar a qualidade de vida da paciente. “Não há cura para a doença, mas ela é perfeitamente controlável. Autor do livro “Tem alguma coisa errada comigo ? Como detectar, entender e tratar a síndrome dos ovários policísticos”, o médico reconhece que, para sua melhor eficácia, o tratamento da doença requer o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
SERVIÇO
Livro: Tem alguma coisa errada comigo ? Como detectar, entender e tratar a síndrome dos ovários policísticos.
Autor: Ademir Carvalho Leite Júnior
Editora: MG Editores
Preço: R$ 26,00
Páginas: 136
