Os sintomas da chamada melancolia

Uma tristeza profunda, o ar de quem não se interessa pela vida exterior, a inércia, o olhar perdido no infinito.

Quantas vezes personagens da literatura ou da pintura foram retratados assim, ou quantos artistas tinham comportamentos próximos disso.

Pois bem, estes são os sintomas da chamada melancolia, tão apreciada pelo romantismo, pode ser na verdade um grave problema de saúde, um tipo de depressão que, boa parte das vezes leva à perda da capacidade de sentir prazer na vida, com grande sofrimento para os portadores da doença, em especial, as pessoas idosas.

De acordo com o especialista em transtornos do humor, o psiquiatra Teng Chei Tung, é preciso distinguir a tristeza, uma emoção universal, do sofrimento representado pela depressão melancólica, que tem características incapacitantes e não pode ser controlada pelo paciente sozinho, necessitando de tratamento clínico.

O especialista enumera cinco tipos principais de depressão: a melancólica, a atípica, a psicótica, a sazonal e a ansiosa. Destas, uma das menos conhecidas e debatidas entre a população é a depressão melancólica.

“Como pode atingir os idosos, o transtorno é, muitas vezes, confundido como alguma condição inerente à idade, atribuindo-se sintomas de melancolia, como esquecimento e desânimo a características naturais da velhice, o que não é verdade”, ressalta.

Indisfarçável

Até recentemente esses pacientes não procuravam os médicos psiquiatras – situação que vem mudando em virtude da maior aceitação dos tratamentos das doenças mentais e da divulgação de informações, cada vez maior, a respeito das mesmas e de seus tratamentos. “Ainda assim, existem algumas pessoas com quadro de depressão melancólica não identificado”, afirma Teng.

Alguns sintomas clássicos desse tipo de depressão são os pensamentos negativos, a idéia de morte constante, um desencanto sem fim, tédio, uma inatividade forte e, principalmente, perda de apetite e insônia.

Em relação aos outros tipos de depressão, tem uma “vantagem” para sua percepção: enquanto as demais podem ser mascaradas, a melancolia é indisfarçável, está constantemente presente no rosto e na expressão do doente. Além do abatimento físico que todos notam em função de mudanças físicas na pessoa, principalmente, o emagrecimento.

De acordo com especialistas, os chamados transtornos de humor (diversas doenças associadas à depressão) são conhecidos há séculos. Hipócrates, o “Pai da Medicina”, usou o termo melankolia, que pode ser traduzida por “bile negra”, para nomear um dos quatro humores que constituiriam o corpo humano (juntamente com a bile amarela, o sangue e a fleuma). O excesso dessa substância no organismo seria responsável pela tristeza e angústia que caracterizam a depressão.

Fácil de tratar

Se durante muito tempo a melancolia foi encarada como uma espécie de atributo cultural, a descoberta dos antidepressivos, na década de 50, significou um grande avanço no tratamento dos transtornos do humor.

Observou-se que certas substâncias agem sobre outras que atuam no sistema nervoso, principalmente sobre a serotonina, que influencia o humor e controla a liberação de hormônios que mexem com a disposição, sono e fome, por exemplo.

Distúrbios envolvendo a serotonina são característicos em deprimidos.
Os primeiros antidepressivos traziam muitos efeitos colaterais e até hoje a medicação deve ser acompanhada cuidadosamente.

Atualmente, conforme Teng, novos estudos e descobertas fazem com que medicamentos atuem de forma mais segura nos diversos tipos de depressão. Uma das substâncias mais adequadas, em especial nos casos de depressão melancólica, é a mirtazapina, que não tem efeitos colaterais importantes, pode ser associada a outros medicamentos (inclusive outros antidepressivos), não afeta a libido, nem o coração, com bom desempenho na recuperação do apetite e na melhoria do sono.

Assim, com mais informações e menos preconceito e,m procurar o médico para tratar do problema e com drogas mais eficazes e baratas, acredita-se que o tratamento da depressão melancólica deve obter maiores níveis de eficiência.

Afinal, como pondera o psiquiatra, é uma doença relativamente fácil de tratar, podendo ser, inclusive, bem controlada, desde que seu diagnóstico seja rápido e efetivo. Para isso, o apoio familiar é muito importante, até para a percepção dos sintomas, já que exames clínicos normais não acusam o problema.

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