Os desafios da saúde pública na luta contra o câncer

A maioria das células do nosso corpo se dá bem com as outras ao redor, cumprem com suas funções e trabalham sem interferir no bem-estar das células vizinhas.

Com efeito, as células do fígado deixam as do baço trabalharem e as células do pulmão nem sonham em fazer o trabalho das células do coração.

No entanto, algumas delas, não se importam nenhum um pouco em manter uma convivência amigável. São as células cancerígenas. Basicamente o que elas fazem é se multiplicar, se dividir e infernizar a vida das demais células do organismo. Espalham-se pelo corpo, prejudicando suas vizinhas e, por vezes, todo o organismo.

De acordo com o Inca – Instituto nacional do Câncer, o termo é utilizado genericamente para representar um conjunto de mais de 100 doenças, incluindo tumores malignos de diferentes localizações.

Importante causa de doença e morte no Brasil, desde 2003, as neoplasias malignas constituem-se na segunda causa de morte na população, representando quase 17% dos óbitos de causa conhecida no País.

Obstáculos ao tratamento

Até o final de 2010, mais 489 mil novos casos de câncer serão registrados no País, segundo estimativas do Inca. Além das dificuldades impostas pela própria doença, pacientes brasileiros ainda encontram outros obstáculos na luta contra o problema.

Apesar dos avanços mundiais da medicina, mesmo quem conta com assistência médica privada, não consegue ter acesso às novas tecnologias e medicamentos, desenvolvidos para o tratamento da doença.

Quimioterapia com remédios avançados, exames de maior precisão e algumas modalidades de radioterapia ainda são deixados de fora da cobertura dos planos de saúde, o que obriga cada vez mais pessoas a procurar na Justiça o auxílio para enfrentar a doença. As dificuldades encontradas pelos pacientes com câncer se refletem no aumento do número de ações contra planos e seguradoras.

“Os planos de saúde não estão obrigados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a custear, por exemplo, medicamentos quimioterápicos orais, como ocorre em outros países”, reconhece o advogado Julius Cesar Conforti.

Também não têm obrigação de disponibilizar aos segurados o check-up, conjunto de exames fundamentais para a detecção precoce da doença e aumento das chances de cura.

Para completar, o registro de novas drogas no País pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é muito moroso.

Assim, conforme o especialista, como os planos não são obrigados a custear medicamentos não nacionalizados, os usuários ficam anos privados do acesso às novas tecnologias.

Apesar do cenário atual desfavorável, o novo rol de procedimentos em saúde, editado pela ANS, e que entra em vigor em junho, obriga os planos de saúde a oferecer, por exemplo, o Pet-Scan, exame de imagem que investiga tumores em estágio inicial, que, em alguns casos, aumenta a possibilidade de cura.

Diagnóstico precoce

Hoje em dia, dá para se considerar que o diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte. Muitos especialistas concordam que, alguns deles, como o câncer de pâncreas, por exemplo, tem um índice de sobrevivência muito baixo, outros trazem possibilidades mais animadoras, dependendo da vigilância do próprio paciente com o tratamento da doença, do modo que encaram o diagnóstico sombrio e lutam contra ele.

Em alguns casos (como o câncer de próstata e o de mama) é possível coexistir com a doença com pouco risco de morte. O oncologista e hematologista Valdir Furtado ressalta que alguns tratamentos se baseiam (de forma científica) em estudar casos de pacientes que lutaram, venceram e sobreviveram ao câncer. Assim, aliado às drogas mais potentes e eficazes, recriam os mecanismos que ajudaram a matar as células cancerígenas.

O o,ncologista Rodrigo Rigo reconhece que o grande salto para o controle do câncer é o diagnóstico precoce, “sabidamente uma forma de controlar a doença e, em alguns casos, até de acabar com ela.”

Os estudos mostram que, no Brasil, geralmente os tumores são diagnosticados em estágio avançado, afetando o tratamento e diminuindo as chances de controle dos pacientes.

De acordo com Luiz Antonio Rodrigues Santini, diretor-geral do Inca, o grande desafio para o controle do câncer no País está no campo da mobilização social.

“É preciso garantir a articulação de políticas de saúde com políticas de educação, rompendo preconceitos e quebrando o paradigma de que o câncer é sinônimo de morte”, completa o dirigente.

Mantenha distância!

* Parar de fumar é uma das regras mais importantes para prevenir o câncer
* Uma dieta alimentar saudável ajuda a reduzir as chances de câncer em 40%
* Procure limitar a ingestão de bebidas alcoólicas
* Incorpore a prática de exercícios físicos à sua rotina diária
* Evite a exposição prolongada ao sol e sempre use filtro protetor
* Faça regularmente um auto-exame da boca e da pele
* A mulher deve fazer um auto-exame das mamas todo mês e mamografia anual, a partir dos 40 anos de idade
* A mulher a partir dos 20 anos deverá submeter-se anualmente a um exame ginecológico preventivo
* O homem deverá fazer um auto-exame dos testículos todo mês
* Os homens com mais de 50 anos devem procurar o médico regularmente para o exame de toque retal para prevenir o câncer de próstata
* Homens e mulheres com mais de 50 anos devem solicitar ao médico um exame anual de sangue oculto nas fezes

Os mais frequentes

No Brasil, as estimativas apontam que os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, são os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino.

Câncer da pele – O não melanoma continua sendo
o mais incidente para ambos os sexos, apesar de subdiagosticados. Sua letalidade é considerada baixa. Para o Brasil no ano de 2010 a estimativa é de 53.410 casos entre homens e de 60.440 nas mulheres.

Câncer de pulmão – É o tipo mais comum de câncer no mundo. O padrão da ocorrência desse tipo de neoplasia é determinado por um passado de grande exposição ao tabagismo. O número de casos novos de câncer de pulmão estimado para o Brasil no ano de 2010 será de 17.800 entre homens e de 9.830 nas mulheres.

Câncer de mama – É o segundo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. A detecção precoce permite tratamento com boas chances de cura. A cada ano, cerca de 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama. O número de casos novos esperados para o Brasil em 2010 será de 49.240.

Câncer do colo do útero – O câncer do colo do útero é o segundo tipo mais frequente entre as mulheres, com aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo.

É o câncer que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente. O número de casos novos esperado para o Brasil no ano de 2010 será de 18.430.

Câncer de próstata – É considerado o câncer da terceira idade, uma vez que cerca de três quartos dos casos ocorrem a partir dos 65 anos. Em valores absolutos, é o sexto tipo de câncer mais comum no mundo e o mais prevalente em homens. O número de casos novos estimado para o Brasil no ano de 2010 será de 52.350.

Câncer de estômago – No mundo, a incidência do câncer de estômago configura-se como a quarta causa mais comum e, em termos de mortalidade, é a segunda causa de óbitos por câncer.

A redução nas taxas de prevalência de fatores de risco ajuda a diminuir sua incidência. O número de casos novos estimado para o Brasil no ano de 2010 será de 13.820 entre homens e de 7.680 nas mulheres.

Câncer de cólon e reto – Configura-se como a terceira causa mais comum de câncer no mundo. A sobrevida para esse tipo de neoplasia é considerada boa, se a doença for diagnosticada em estádio inicial. O número de casos no,vos estimado para o Brasil no ano de 2010 será de 13.310 casos em homens e de 14.800 em mulheres.

Fonte: Inca