Imagine uma peça de quebra-cabeça. Ao chegar ao seu local determinado, a peça se encaixa e permite uma visão mais ampla da figura. A analogia exemplifica o cenário atual dos medicamentos para o câncer. Tratamentos altamente específicos, como uma peça do quebra-cabeça, levam o nome de terapia-alvo por conta da sua precisão. Imagine, então, que esses novos medicamentos agem ocupando o espaço deixado por alguma peça. Essa ?intrusa?, representada pelas novas terapias, desencadeia uma série de eventos que culminam em diferentes formas de bloquear o crescimento e a sobrevivência do tumor.
?A terapia-alvo ainda está em fase de desenvolvimento, sendo desvendada, mas há vários avanços que foram obtidos com a utilização mais efetiva das novas drogas?, explica o oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Com efeito, o que se pesquisa hoje é em quais tumores essas novas drogas podem apresentar uma ação positiva. Assim, os medicamentos de última geração agem sobre alvos que podem ter relevância para diferentes tumores.
Revolução nos tratamentos
Isso explica, por exemplo, porque um medicamento poderia apresentar resultados promissores tanto para o câncer de rim quanto para o de mama. A premissa é que as terapias-alvo, por atuarem em diferentes frentes contra o tumor, poderiam agir na ?casa das máquinas?, ou seja, no local responsável por promover a multiplicação desenfreada de células malignas que formam o câncer. Assim, essas terapias atuam bloqueando a angiogênese, ou seja, o crescimento dos novos vasos sangüíneos que alimentam o tumor. Essas terapias podem, também, bloquear a multiplicação dessas células, apresentando o que se chama de ação antiproliferativa.
?Embora ainda haja muito que aprender sobre as terapias-alvo, elas são um grande avanço na área?, admite Katz. Atualmente, explica o oncologista, os medicamentos estão sendo testados em diferentes tipos de câncer. ?Estamos experimentando essas novas descobertas em vários tumores?, comenta, salientando que já se conseguiu alcançar alguns acertos importantes.
A terapia-alvo revolucionou o tratamento do câncer de rim, por exemplo. Até o ano passado, esse tipo de câncer era tratado com medicamentos que estimulavam o sistema de defesa a combater o tumor. ?Sua eficiência era relativa, com o advento das técnicas de terapia-alvo, o paciente apresenta uma sobrevida maior com melhor qualidade de vida?, explica Carlos Dzik, coordenador do ambulatório de oncologia clínica do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
Doença crônica
Conforme o especialista, esses novos medicamentos podem beneficiar pacientes com outros tipos de tumor, conforme descrito acima. ?No entanto, a recíproca pode não ser efetivamente verdadeira, pois para um medicamento ter efeito em câncer de rim, por exemplo, a terapia precisa apresentar certas características, necessitando, principalmente, ter ação antiangiogênica?, conclui Dzik.
Todas essas novas classes de medicamentos trazem a promessa de melhorar o tratamento do câncer. O consenso entre os especialistas é de que há uma tendência em fazer do câncer uma doença crônica, que necessite de controle para sempre, mas o risco de morte seja diminuído e, isso, só se consegue por meio da combinação de medicamentos. ?Ainda existem tumores que carecem de um tratamento eficaz?, reconhece o oncologista. Novas drogas já estão em pesquisa e devem chegar ao mercado em breve. Será a segunda geração das drogas inteligentes.
Diferentes tipos de câncer
Mama: Relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima dessa faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente.
Colo de útero: No Brasil, é o terceiro câncer mais comum entre as mulheres. Pode ser prevenido e detectado precocemente com exames de rotina
Próstata: É a segunda causa de óbitos por câncer entre os homens. Na maioria dos casos, o tumor apresenta um crescimento lento, acometendo mais os homens acima de 50 anos de idade.
Pele: É mais comum depois dos 40 anos de idade, em pessoas com pele e olhos claros, que se expõem prolongadamente ao sol.
Colo-retal: O câncer mais freqüente do aparelho digestivo. Os tumores atingem o cólon (instestino grosso) e o reto.
Estômago: Também denominado câncer gástrico, é o terceiro tumor maligno mais freqüente nos homens e o quinto entre as mulheres.
Pulmão: É o mais comum dos tumores malignos, apresentando um aumento de 2% ao ano em sua incidência. Em 90% dos casos diagnosticados está associado ao tabagismo.