A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que o mundo está exposto à possibilidade de uma pandemia da mortal gripe avícola, apesar de até agora a doença estar circunscrita à Ásia.
O órgão internacional disse que, dada a situação atual, a difusão do perigoso vírus H5N1 pode gerar uma pandemia como a ocorrida em 1918 com a chamada “gripe espanhola”, que custou a vida de 40 milhões de pessoas em várias partes do mundo.
“Parece que existem semelhanças entre o vírus da gripe dos frangos, H5N1, e o vírus de 1918”, sustentou a OMS em documento divulgado em Bruxelas no último 20 de janeiro, pouco depois da confirmação, no Vietnã, da morte de uma nova vítima ? uma jovem de 18 anos ? devido à gripe avícola. Com essa vítima, já somam 38 as pessoas mortas devido ao H5N1 desde junho, quando a Tailândia e o Vietnã anunciaram os primeiros casos da gripe avícola em humanos.
Desde 28 de janeiro de 2004 foram registrados 52 casos da doença em seres humanos na Tailândia e no Vietnã, alguns dos quais conseguiram se recuperar. Mas 12 pessoas morreram na Tailândia e 26 no Vietnã.
O vírus H5N1 é particularmente temido pelos especialistas porque sua taxa de mortalidade é alta e o temor é que assuma uma forma que o torne transmissível de pessoa para pessoa. Até agora, a maioria dos doentes contraíram a gripe através do contato com um animal.
Desde o ano passado, foram exterminadas milhões de aves na tentativa de evitar a transmissão, mas o vírus dos frangos se tornou endêmico e mais resistente em algumas regiões da Ásia.
Os cientistas verificaram nos últimos meses que o vírus se transformou em mais patogênico para as aves e desenvolveu qualidades que o fazem sobreviver mais tempo no ambiente, acrescentou o documento da OMS. A isso se somam indícios de que “o leque de espécies animais que podem hospedar o H5N1 está aumentando”. Os patos domésticos, por exemplo, são “recipientes silenciosos” do vírus, pois são capazes de ter em seu organismo o H5N1 sem apresentar qualquer sintoma da doença.
“Ninguém pode prever como a situação evoluirá”, mas “a probabilidade de uma pandemia aumentou”, assegurou o documento da OMS, que foi encaminhado ao Conselho Executivo da entidade internacional.
O documento revelou que “a vulnerabilidade da população a um vírus pandêmico do tipo do H5N1 é universal”.
Apesar de ser impossível prever quando se desencadeará uma pandemia da gripe avícola, a OMS advertiu sobre a “propagação internacional rápida e certa, quando se está diante de um vírus com essas características”.
Para a OMS, vacina é a melhor forma de frear o mal
No século passado, o mundo registrou três pandemias como a que a OMS está advertindo que pode acontecer em pouco tempo: as de 1918, 1957 e 1968. A diferença, porém, é que no passado as epidemias desse tipo “viajavam” por mar e a propagação se tornava mundial só depois de seis ou oito meses. Hoje, o transporte aéreo reduz muito os tempos de transmissão.
Segundo o órgão da ONU, a vacina será a melhor forma de frear o mal, mas a capacidade de fabricação é ainda limitada e não pode ser aumentada rapidamente. Por isso, a OMS advertiu que são necessárias soluções imediatas para deter a propagação do vírus e citou, entre outras alternativas, recorrer a antivirais e a intervenções práticas como higiene pessoal, quarentena e restrições a viagens.
“Cada demora na propagação internacional para o início de uma pandemia pode permitir o aumento do tempo disponível para a produção e o armazenamento de vacinas. Cada dia a mais pode significar um suplemento de 5 milhões de doses de vacina”, sustentou a OMS.
Para a organização, “dada a gravidade da situação atual, todos os países deveriam realizar atividades de preparação. E agora, antes da explosão de uma pandemia, é a melhor ocasião para colaborar em um plano internacional de preparação e desenvolvimento de uma vacina”.