Tropeços, desinteresse em assistir televisão, abandono do hábito de leitura ou de jogos, como cartas ou dominó. Esses podem ser indicativos importantes de que o idoso não está enxergando bem. Um número considerável deles o faz devido a uma perda gradativa da visão. Essa situação passa a interferir na sua qualidade de vida, podendo causar insegurança, isolamento e até depressão. Entender o funcionamento do sistema visual nessa etapa da vida é um tema que deve ganhar maior importância, visto o envelhecimento da população mundial.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 180 milhões de pessoas em todo o mundo têm algum tipo de deficiência visual, dos quais 50 milhões são cegos que não podem sequer caminhar sem ajuda. O Brasil participa desta estatística com 4 milhões de deficientes visuais e aproximadamente 1,2 milhões de cegos. A incidência das doenças oculares ainda representa um grave problema de saúde pública, mesmo nos grandes centros urbanos. Porém, recentes avanços tecnológicos já permitem que importantes doenças oculares até alguns anos atrás consideradas incuráveis, sejam diagnosticadas precocemente, permitindo boa qualidade de vida de seus pacientes.
Vítimas de cegueira
Por diferentes motivos, apesar desses avanços, uma parcela importante da população ainda não cuida dos olhos como cuida de outras partes do corpo. O oftalmologista Carlos Augusto Moreira, do Hospital de Olhos do Paraná, alerta que as pessoas não devem procurar um médico apenas quando surge algum problema, como visão embaçada, vermelhidão, dor ou trauma. ?Portadores de diabetes que buscarem por ajuda tardiamente, por exemplo, quando apresentarem problemas para enxergar, terão alto risco de se tornarem vítimas da cegueira?, exemplifica.
O mesmo pode ocorrer, de acordo com o especialista, entre vítimas de males como o glaucoma – a segunda causa de cegueira do mundo, entre os portadores de catarata – a principal delas e entre as vítimas da degeneração da mácula – grave causa da perda da visão na terceira idade, afirma.
Conforme o oftalmologista Osny Sedano, a visão também envelhece com a pessoa. ?Com a idade, a córnea vai perdendo progressivamente a transparência e o cristalino, que é normalmente transparente, ganha tons amarelados?, diz o especialista. Nesse processo, a retina também passa por desgaste. As terminações nervosas (neurônios) vão se afastando e perdendo a condutividade, resultando em perda da qualidade visual. ?É como o tubo de um aparelho de televisão que vai ficando velho?, ilustra o médico.
Sedano explica que não se sabe exatamente de que maneira as pessoas vêem com a idade avançada, pois o aparelho visual é altamente complexo. A consciência e a visão são intimamente relacionadas. A memória visual também tem sua parte consciente e inconsciente. É comum a pessoa, ao ver alguma coisa, se lembrar de que já havia visto aquela imagem antes e nunca ter notado. De acordo com o médico, toda influência da idade relacionada à memória, percepção e atividade intelectual é também relacionada à visão.
LENTES MULTIFOCAIS
Um dos grandes vilões contra a visão na terceira idade é a falta de informação. ?Mesmo os idosos em boa situação econômica muitas vezes estão mal informados sobre as possibilidades para melhorar sua visão?, revela o óptico Eric Gozlan. Conforme o consultor, um dos exemplos mais claros é o desenvolvimento das lentes multifocais, que evoluíram muito nos últimos anos. Feitas para atender deficiências visuais para perto e longe, elas ainda são subutilizadas por alguns usuários por sua utilidade específica. ?As medidas para uma lente multifocal precisam ser muito corretas para que um campo de visão não interfira no outro?, revela Gozlan.
O óptico afirma que é preciso saber sempre sobre a atividade cotidiana do idoso usuário de óculos. Assim, pessoas com vida dinâmica precisam de lentes que proporcionem uma visão panorâmica em todas as distâncias e quem leva uma vida mais pacata precisa de multifocais de campo definido. Gozlan ainda alerta para o fato de que as armações também vêm sofrendo mudanças para atender à demanda dos usuários idosos. ?Os novos produtos são mais leves, antialérgicos e resistentes?, comprova. Sem contar que, por distração, os idosos acabam perdendo-os dentro de casa ou derrubando-os no chão, por isso, sempre é bom adquirir modelos que aliem qualidade, conforto e segurança.
Prevenção começa cedo
No início da vida escolar, antes de a criança completar cinco anos, é importante os pais, com a ajuda dos professores, se existe desinteresse do aluno pela leitura, necessidade de aproximar-se muito de livros ou de cadernos para ler, de franzir a testa para olhar à distância, bem como dores de cabeça e mal-estar freqüentes após esforço visual. Esses sinais podem ser indicativos da existência de uma doença visual que deve ser tratada precocemente, alerta o oftalmologista.
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