Rouquidão, dor na hora de falar, aspereza e garganta coçando. Muita gente não leva a sério e acha que cuidar da voz é coisa de quem canta ou trabalha falando o dia inteiro, porém, a “saúde vocal” ou “higiente vocal”, como os médicos chamam, é essencial para o aparelho fonador de qualquer pessoa e alguns pequenos cuidados garantem que suas cordas vocais fiquem sempre saudáveis.
“Geralmente, as pessoas procuram um profissional quando o problema já está em um estágio mais avançado. O ideal é prestar atenção nos sinais que a voz nos dá. Ficar rouco com frequência, sentir dor, dificuldade na hora de falar ou viver com a garganta coçando são sinais de que algo vai mal”, explica a fonoaudióloga Thays Vaiano.
Os sons que emitimos são, em sua maioria, produzidos pelas cordas vocais. Localizadas na laringe, elas constituem um tecido musculoso com duas pregas.
Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia mensagens pelos nervos até os músculos que controlam a aproximação das cordas vocais e fazem com que se forme um espaço estreito entre elas.
Ao expulsar o ar por elas, provocamos sua vibração, o que faz com que ocorra a produção do sons. Por serem elásticas, elas distendem ou relaxam de acordo com a intensidade do esforço que fazemos na hora de falar ou cantar, por exemplo. Para que este processo aconteça, usamos orgãos como lábios, a língua, os dentes, o véu palatino e a boca, que acomodam, modalizam e distribuem o ar e os sons.
Extensão vocal
A frequência natural da voz humana é determinada pelo comprimento das cordas vocais. Assim, mulheres que têm as pregas vocais mais curtas possuem voz mais aguda do que as que têm pregas vocais mais longas. É por esse mesmo motivo que as vozes das crianças são mais agudas do que as dos adultos.
A mudança de voz costuma ocorrer na puberdade e é provocada pela modificação das pregas vocais que de mais finas mudam para mais grossa. Este fato é especialmente relevante nos indivíduos do sexo masculino.
O comprimento e a espessura das cordas vocais determinam tanto para o sexo masculino como para o feminino, a extensão vocal da pessoa. “Quando você muda o tom de voz para mais ou menos alto, altera o esforço que faz nas cordas vocais e isso as prejudica. Como toda musculatura, ela precisa ser treinada e fortalecida com exercícios e muito cuidado, senão, um dia a voz pode falhar”, explica Thays.
Nódulo ou calo nas cordas vocais: 70% dos casos de distúrbios na voz são representados pelos calos nas cordas vocais. Parecidos com os que se formam nos pés, eles aparecem em função do atrito causado pelo contato direto e frequente entre as cordas vocais, formando uma camada dura e resitente que compromete o tom de voz e incomoda na hora de falar. “Como o paciente não sente dor, não se dá conta de que se trata de um problema. Só dá para perceber se a rouquidão ou outra irritação se tornar um sintoma frequente”, explica a Thays.
“A notícia boa é que o mal tem cura e basta terapia para amenizar o problema, porém, não adianta nada fazer terapia e depois cometer os mesmos erros. Cuidar da voz é uma questão de condicionamento físico. Ela precisa estar forte para aguentar as variações do dia a dia”, continua a fonoaudiologa.
Pólipos: ” Trata-se de uma espécie de bolhinha que estoura nas cordas vocais, também em função de um esforço maior do que a musculatura pode aguentar, porém, sua gravidade é maior e só é possível tratá-los com cirurgia de remoção”, explica.
Dicas para blindar a sua voz
1.Evite o cigarro. A nicotina associada ao calor da fumaça resseca as cordas vocais fazendo com que você fique rouco ou force ainda mais a musculatura para falar.
2.Não tome muito café! O teor de cafeína associado à alta temperatura é um problema. “Assim como o cigarro, a bebida desidrata as cordas vocais, além disso, provoca um aumento da acidez no estômago causando refluxo e ardor na hora de falar”, diz a fonoaudióloga.
3.Bebidas alcóolicas esquentam a voz? Isso é mito. O que acontece é que o álcool, assim como substâncias como propólis, não esquentam a garganta. Na verdade, eles ansestesiam a região por alguns minutos mas, quando o efeito passa, o problema continua e, para driblá-lo, fazemos ainda mais esforço. “Se você está com dificuldades para falar ou com rouquidão, é um indicativo de que algo vai mal e estes truques não vão resolver”, continua ela.
4.Gelado faz mal? A especialista diz que não há nada científico comprovando que o gelado prejudica as cordas vocais. “Isso varia de pessoa para pessoa e cada um deve ter essa percepção”, sugere Thays.
5.Fuja do ar condicionado: além de comprometer as cordas vocais, ele altera a respiração, fazendo com que a voz fique ainda mais prejudicada. “Ele resseca o aparelho fonador, e as cordas vocais precisam fazer um esforço muito maior para produzir o mesmo som que produziria sem tanta dificuldade se não estivesse exposta ao ar condicionado”, explica Thays.
6. Nada de muitos condimentos na comida, eles deixam a comida bem mais saborosa mas, em compensação, podem provocar irritações nas cordas vocais e nem sempre um bom gole de água alivia o problema. Por isso, é melhor não exagerar.
7.Invista na maçã: a fonoaudióloga explica que a fruta tem ação adistringente e, por isso, “limpa” as cordas vocais trazendo alívio e bem-estar.
8. Beba muita água: nada pode ser mais benéfico para as cordas vocais do que a hidratação. Elas ficam mais limpas e saudáveis para que você enfrente qualquer situação sem precisar de um tradutor de última hora.
Para quem trabalha com a voz
Cantores, atores, contadores de histórias, guias. Essa turma depende da sáude da voz para exercer seu trabalho de forma eficiente.”Costumo recomendar um personal fono para estes profisionais. Você começa com alguns exercícios suaves e específicos e, com o tempo, aumenta o treino até deixar a musculatura em ordem”, conta a fonoaudióloga.
“O ideal é que aprendam a não concentrar a força no pescoço, pois é esta força cervical que compromete o aparelho fonador. Técnicas de respiração e articulação ajudam muito”, continua.
Exercícios em casa
Existem exercícios simples para se fazer no dia a dia, porém, executá-los de maneira incorreta pode caussar o efeito contrário, por isso, segundo ela, o certo é primeiro procurar um profissional e, só depois, começar os exercícios adequados para você. “Uma boa opção é a vibração de língua, que já faz diferença e não te contra-indicação, desde que feita direitinho”, finaliza.