Sobrepeso ou obesidade nem sempre significam que a pessoa se encontra num bom estado nutricional. A única constatação é de que a pessoa está ingerindo mais calorias do que gasta. Além do mais, muitas dessas calorias podem não conter nenhum tipo de nutriente e são conhecidas por ?vazias?, como é o caso das bebidas alcoólicas, que fornecem cerca de sete calorias por grama, sem acrescentar qualquer tipo de macro ou micronutriente. Por isso, no entender da endocrinologista Ellen Simone Paiva, é aceitável a idéia da coexistência de um estado de sobrepeso e carências nutricionais, das mais variadas formas.

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A especialista diz que podemos encontrar essa associação com maior freqüência em populações de baixa renda, onde o baixo custo e a praticidade do consumo dos alimentos industrializados, ricos em sódio, gorduras hidrogenadas e calorias, são priorizados quando comparados com os alimentos naturais, que necessitam de tempo e disposição para o preparo. Isso, de acordo com Ellen, sem deixar de citar que o forte apelo do sabor dos alimentos industrializados vem ganhando a preferência dessa faixa da população. ?Entre as principais carências alimentares, estão a anemia por deficiência de ferro, as vitaminas do complexo B e o cálcio?, ressalta a endocrinologista.

Resquícios

Embora o estudo do IBGE ? 2.ª etapa da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003 – tenha mostrado uma queda da desnutrição no Brasil, esse ainda é um problema que merece atenção. Ellen realça que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a obesidade pode estar relacionada à desnutrição. Uma pessoa que foi subnutrida na sua infância e adolescência tem uma tendência muito grande à obesidade, principalmente porque o organismo, acostumado a trabalhar com um número de calorias muito baixo, parece não conseguir manter um peso normal quando passa a consumir alimentos muito calóricos. ?Ela se transforma num obeso, mas que tem resquícios de subnutrição”, esclarece a médica.

Entre as classes média e alta, o grupo de maior risco são os adolescentes. Entre eles há referências de baixa ingestão de cálcio e alta ingestão de carboidratos e gorduras. Um tipo de desnutrição difícil de ser diagnosticada, em virtude da prevalência da obesidade.

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O tratamento de um obeso, que também apresenta desnutrição, deve levar em conta alguns princípios básicos, como um exame físico detalhado, uma investigação laboratorial minuciosa da saúde nutricional e um plano dietético individualizado que permita ao paciente emagrecer com saúde.

Para a endocrinologista, um dos principais problemas do país não é a falta de oferta de alimentos, mas a dificuldade nas escolhas certas desses alimentos. O Brasil, de fato, não tem grandes problemas de fome crônica, não é um país que sofre de problemas de carência alimentar crônica. Pelo contrário, o Brasil é um grande produtor de alimentos, ?mas a população do país ainda precisa aprender a importância de desenvolver bons hábitos alimentares?, complementa.

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