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| Lidiane Perlamagna, especialista em endocrinologia pediátrica. |
O cenário ideal pede crianças e adolescentes acostumados a ficar em casa em frente ao computador, vídeo game e que prefiram uma alimentação à base de fast food e muitas guloseimas como bolachas, chocolates e refrigerantes. Tudo isso associado a pouca atividade física leva a um aumento de peso e, conseqüentemente, à obesidade.
No Brasil, no entanto, a doença tem avançado ao longo dos anos. 15 a 20% dos pacientes obesos são crianças e adolescentes, na faixa dos 9 aos 18 anos. Então, fica a questão. Por que, apesar da doença ser uma preocupação mundial e haver esforços para diminuir sua incidência, os índices aumentam em nosso país?
Apesar de difícil, é preciso encarar a realidade, que apresenta alguns problemas, cuja gravidade é demonstrada na seguinte ordem, todas de extrema preocupação. Em primeiro lugar, existe uma questão cultural no país porque há muitas famílias que, principalmente na infância, acham que ser ?gordinho? é sinônimo de bonito e saudável.
Depois, a ausência dos familiares, por excesso de trabalho, faz com que a criança fique muito tempo sozinha, ou seja, criada pela babá ou por algum parente próximo, e o sentimento de culpa por parte dos pais leva a conquista do carinho com base em presentes, como chocolate e guloseimas na hora errada.
Hoje, o ritmo de vida dos pais, repleto de situações de estresse, repercute na família. Uma criança ou adolescente que vive num ambiente extremamente agitado, irritado, acaba ansioso e descarrega na comida essa ansiedade.
O excesso de atividades sem adequação da carga horária também causa estresse. O que falta é equilíbrio. Ou as crianças, além de ir para a escola, vão para o inglês, natação, judô, ballet, kumon. São expostas a um ambiente de muita pressão, cobrança por resultados e a ansiedade que leva à obesidade. Ou vivem num ambiente com excesso de TV, vídeo game e uma alimentação com guloseimas, por impulso, que favorece o ganho de peso.
Por fim, há muita dificuldade para as famílias encontrarem ajuda no serviço público. Isso ocorre porque não há especialistas nos postos de saúde e apenas alguns hospitais são referências na área. No conjunto, ter um problema cultural no país e mais a dificuldade em encontrar o tratamento adequado no serviço de saúde pública resulta no abandono do tratamento pelo paciente ou ele e sua família demoram em buscar ajuda.
No geral, a realidade é dura. A cada 250 pacientes, em média, apenas 33%
acompanham e chegam a atingir a meta. O restante abandona o tratamento. Com efeito, o paciente ganha peso e acaba desistindo. As conseqüências nesses casos vão além do desenvolvimento de doenças graves, como diabetes, pressão alta e aumento do colesterol. Pode haver acúmulo de gordura no fígado, que leva a uma alteração das enzimas hepáticas.
A obesidade deve ser encarada como uma doença, necessita de tratamento e envolve toda a família do paciente, porque nada mais é do que uma repercussão dos hábitos alimentares. O problema é que, muitas vezes, a mãe e a criança fazem a dieta e o pai traz a pizza à noite porque diz que não está de regime. No entanto, se a família toda não se reeducar, não existe mágica que solucione o problema.