Obesidade: Aprender a dizer NÃO ajuda a emagrecer

Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu na pele o peso da expressão "engolir sapo". Quase regra para a convivência pacífica, somos habituados muitas vezes a dizer sim mesmo a contragosto. Em casa, no trabalho e até nas rodas de amigos, na hora de escolher que programa fazer. O que poucos se dão conta é que esses pequenos "sapos" podem trazer conseqüências bem mais desagradáveis. É que levar desaforo para casa, fazer concessões além da conta e acumular raiva são atitudes que levam a diversos distúrbios, inclusive à obesidade.

De acordo com o psicólogo clínico Marco Antônio de Tommaso, fatores genéticos ou biológicos estão relacionados a apenas de 3 a 5% dos casos de obesidade. Conclusão: a maioria tem ligação com fatores psicológicos. A reação a uma contrariedade excessiva faz com que o indivíduo passe a ingerir mais alimentos, conseqüentemente ganhando mais peso. ?Com isso acabam atuando como fator desencadeante da obesidade", afirma a psicóloga Camila Mendonça.

Para comprovar essa teoria, estudiosos da Universidade do Texas realizaram uma pesquisa recente com adolescentes entre 14 e 17 anos e constataram que atitudes como aceitar desaforos, por exemplo, contribuem para a obesidade. "Os sentimentos de impotência provocam raiva, que nos leva a comer, que por sua vez engorda e engordar provoca sentimentos de culpa. É um verdadeiro círculo vicioso", destaca a psicóloga.

Relação maternal

O psiquiatra Adriano Segal, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), confirma que o estresse desencadeia uma série de alterações bioquímicas que levam o indivíduo a exagerar no tamanho do prato. A mais perigosa delas é a deposição de gordura no abdome, que pode levar às doenças cardiovasculares e outras disfunções, inclusive a diminuição dos níveis de serotonina no cérebro, que entre outras funções controla a saciedade.

A relação entre raiva e comida começa cedo. Quando os bebês choram, só se acalmam quando encontram o peito da mãe. "O alimento é o primeiro ansiolítico e o primeiro antidepressivo que utilizamos", compara Marco Tommaso. Inconscientemente, essa relação permanece na vida adulta, já que somos culturalmente condicionados a "engolir" o choro, a raiva e o que mais se manifeste. "Reprimir a emoção deixa o corpo em estado de alerta constante", avisa.

Nesses casos, reconhece Segal, é importante ver a freqüência com que a pessoa busca o consolo na alimentação, e se a pessoa se sente desconfortável por estar exagerando na comida. O especialista diz que se a dieta e exercícios físicos não estão adiantando, talvez seja a hora de procurar a ajuda de um psicólogo.

Uma atitude que pode ajudar nessas horas é aprender a dizer não, e expor a opinião, independentemente do que os outros pensem. ?Essa habilidade deve ser bastante exercitada, já que esse posicionamento oferece novas formas de expressão de sentimentos, que outrora iam para a comida", conclui.

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