A insônia é um problema que incomoda muita gente, sobretudo nas noites de muito calor. |
As noites de verão são assim mesmo: som alto, bebida, diversão e poucas horas de sono. O clima propício da temporada faz que seja natural que as pessoas vivam mais intensamente, entretanto, é fundamental que os limites do relógio biológico sejam respeitados. Uma noite perdida na balada deve ser adequadamente reposta. Tudo para que os sonhos não se transformem em pesadelo no final das férias. Para Márcia Assis, neurologista e especialista em distúrbios do sono, dormir é uma atividade essencial, ?como beber água ou comer? e que precisa ser adequadamente preservada.
Dormir bem é imprescindível para se manter a saúde em dia. Segundo a especialista, é quando o organismo descansa do desgaste das horas em que passamos acordados, recuperando os hormônios vitais para o funcionamento do corpo, além de descansar a mente. Dormir faz bem para o corpo, mente e alma, mas também pode ser um prazer a mais. Ao contrário, as noites mal-dormidas trazem com elas o risco do surgimento de diversos distúrbios. Márcia Assis destaca, nessa época, o perigo da sonolência no trânsito – aquela constatação de que o condutor de um veículo sinistrado ?dormiu? ao volante. ?Sacrificar as horas de sono compromete o desempenho físico e mental, tornando as pessoas mais sujeitas aos acidentes?, ressalta.
Maus hábitos
No Brasil, segundo pesquisadores, os moradores de grandes centros dormem menos, enquanto os da zona rural dormem mais. Estudos apontam que nas grandes cidades, a média de sono está entre cinco a seis horas por noite. Tempo inferior ao ideal, segundo a especialista. Esse déficit, conforme Márcia Assis, traz inúmeras conseqüências desagradáveis, desde a esperada sonolência diurna até dificuldades de memória e raciocínio, déficit de atenção e irritabilidade, entre outros.
Os problemas que mais contribuem para prejudicar o descanso dos brasileiros nas demais estações do ano, de acordo com especialistas, são ansiedade, estresse e depressão. Mas os maus hábitos de sono adquiridos na temporada de verão também fazem parte dos vilões. Para afugentar esse risco, os médicos recomendam que as pessoas evitem o consumo de cafeína e chocolate, também não abusando do álcool antes de dormir. Além disso, orientam para que os exercícios físicos mais desgastantes sejam praticados até quatro horas antes de dormir.
No verão, a dificuldade em dormir passa pela elevada temperatura, já que estudos comprovam que as temperaturas amenas são as mais propícias para uma noite bem dormida. O frio facilita a queda da temperatura corpórea, que vai de 36,5ºC para aproximadamente 35ºC quando dormimos, e diminui o ritmo de atividades do corpo. Portanto, em um ambiente ameno, o conforto prevalece, e a pessoa ?cai? no sono mais facilmente. E o que fazer quando o sono não vem? As alternativas para acelerar a sua chegada passam por fazer algo relaxante – ouvir música, ler, tomar alguma bebida calmante, como o leite (receita infalível das vovós) e só voltar para a cama quando o sono ?pegar? mesmo.
Efeitos colaterais
Não é o caso para se desesperar, já que os prejuízos não se concretizam após uma ou duas noites maldormidas. ?Mas se elas virarem hábito, certamente haverá impacto?, garante a psicóloga Eliane Corrêa Chaves, especialista em promoção da saúde. O leitor deve estar se perguntando se dorme o suficiente. Em média, esclarece a terapeuta, as pessoas carecem de sete a oito horas de sono diárias. No entanto, enquanto para algumas pessoas bastam quatro ou cinco horas, outras exigem nove, dez. ?É uma questão de adequação individual, o que é preciso saber é a quantidade de sono que cada organismo necessita?, reconhece.
De acordo com a especialista, se a pessoa consegue acordar cedo, mas sente dificuldade para desempenhar suas funções, é sinal de que a falta de sono provavelmente está repercutindo em seu corpo. A orientação é de que se tente respeitar mais essas ?vontades?. Se esses compromissos não podem ser retardados, a única solução é tentar dormir ainda mais cedo, mantendo a quantidade mínima de horas para o descanso.
Quando essa vontade de ficar um pouco mais na cama vier acompanhada com outros efeitos colaterais, como falta de atenção, dificuldade de concentração, irritabilidade ou intolerância, entre outros, é melhor procurar ajuda. Eliane Chaves comenta que, com freqüência, as pessoas atribuem tais sintomas a brigas com o parceiro, discussões com o chefe e outras chateações cotidianas. ?No entanto, às vezes, noites bem dormidas podem resolver questões até então insolucionáveis?, completa.
Para dormir bem
* Mantenha seu ambiente de dormir agradável, escuro e quieto
* Evite cochilos durante o dia
* Não abuse do cigarro e do álcool à noite
* Diminua o ritmo de suas atividades horas progressivamente
* Fique longe das refeições pesadas
* Exercícios só até quatro horas antes de ir dormir
* Tome um banho quente
Direção perigosa
Uma conseqüência negativa das noites maldormidas pode ser observada nas estradas. Um estudo da Agência Nacional de Transportes Terrestres verificou que mais de 77 mil acidentes aconteceram em retas, o que pode indicar sonolência do condutor do veículo.
Um estudo publicado na revista Neurology avaliou pacientes com queixas de distúrbios do sono, roncopatia e sonolência diurna através de polissonografia – um exame que registra a qualidade do sono. Ficou demonstrado que 31% deles já tinham sofrido ao menos um acidente automobilístico. Esses motoristas relataram tendência para dormir em situações inadequadas. Muitos deles relataram que erraram o trajeto por conta disso. Os autores sugeriram, como um passo inicial para identificar os motoristas com distúrbios do sono, a introdução de um questionário quando da realização de exames para obtenção da licença para dirigir.
De acordo com os especialistas, os principais sinais de sono ao volante incluem: sentir a cabeça tombar para frente; dirigir desviando da pista para o acostamento; perceber os olhos fechando; não perceber que esteve dirigindo; ultrapassar o local onde deveria entrar; bocejar e coçar os olhos com freqüência; não obedecer a sinalização.