O sono é uma questão de qualidade de vida

O ser humano passa um terço da sua vida dormindo. A afirmação pode ser verdadeira, mas, conforme levantamento realizado pelo Datafolha em 2004, um em cada três brasileiros sofre de insônia ou dorme muito mal. Se você é um daqueles felizardos que só encosta a cabeça no travesseiro, fecha os olhos e dorme a noite inteira, comemore. Afinal, fazer parte da legião de insones que se revira na cama ou perambula pela casa não traz nenhuma vantagem. Ao contrário, os distúrbios do sono, silenciosamente ou não, podem levar a uma série de doenças que afetam a qualidade de vida das pessoas.

Não existem estudos específicos sobre as conseqüências das doenças geradas pelo sono, mas é fato comprovado que os pacientes com insônia utilizam mais os serviços médicos de qualquer natureza ? clínicos ou psiquiátricos ? e faltam muito mais ao trabalho, gerando importantes gastos para as empresas e para o governo. Com efeito, nesta quarta-feira, 21 de março, Dia Nacional do Sono, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) promoverá uma série de atividades a fim de alertar a população sobre a importância de uma boa noite de sono.

Déficit do sono

Para comprovar a incidência do distúrbio, dados do Ministério da Saúde apontam que, somente pelo SUS, nos últimos dois anos foram realizadas quase 15 mil polissonografias, apenas em nove estados, incluindo o Paraná. ?Esse levantamento mostra que o número de queixas de noites maldormidas vem aumentando consideravelmente?, constata o coordenador nacional da campanha do sono, Gilmar Fernandes do Prado.

O especialista comenta que a principal manifestação de um problema crônico de sono é a sonolência diurna exagerada, distúrbio que pode aparecer após meses ou anos de sofrimento. Os primeiros sintomas são as alterações do humor, memória e capacidades mentais. Basta uma noite maldormida para que a pessoa esteja mal no dia seguinte, principalmente menos tolerante, irritada, com dificuldades de memória e dor de cabeça. ?À medida que o déficit de sono se acumula, os problemas aparecem?, observa Gilmar Prado, citando um acidente de carro causado por desatenção, o fato que mais leva o insone a procurar ajuda médica.

Para a neurologista Márcia Assis, especialista em distúrbios do sono e coordenadora da campanha em Curitiba, dormir é uma atividade essencial, ?como beber água ou comer? e que precisa ser adequadamente preservada. Dormir bem é essencial para a boa saúde. Segundo a especialista, é quando os órgãos descansam do desgaste das horas em que passamos acordados, recuperando os hormônios vitais para o funcionamento do organismo. ?Dormir faz bem para o corpo, mente e alma, além de trazer importantes ganhos na qualidade de vida?, atesta a especialista.

* Nosso jornalista participou do lançamento da campanha a convite da ABN.

Ladrões de sono

Existem mais de 80 tipos de distúrbios do sono classificados pela medicina. Alguns mais freqüentes e outros menos comuns, por isso as pessoas não pensam que determinado problema pode estar relacionado à qualidade de seu sono. Conheça alguns deles:

Apnéia do sono ? A respiração pára durante o sono por causa da obstrução da passagem de ar pela garganta. O cérebro emite um sinal, provocando o despertar. Cada interrupção dura alguns segundos, fragmentando o sono.

Ronco ? Estreitamento das vias respiratórias que fazem vibrar o céu da boca e a campainha da garganta quando o ar passa. Acorda-se pelo barulho.

Síndrome das pernas inquietas (RLS) ? Movimento compulsivo induzido por uma necessidade inconsciente de movimentar as pernas, causando o despertar e diminuindo as horas de sono.

Bruxismo ? Ranger ou apertar os dentes enquanto dorme. Pode ser causado por tensão emocional ou problemas na arcada dentária.

Pesadelos ? Sonhos desagradáveis. Acorda-se com sensação de cansaço e angústia.

Sonambulismo ? É mais comum na infância e adolescência e costuma desaparecer com o tempo.

Terror noturno ? Acontece na infância e as crianças acordam assustadas. Ligadas a fatores emocionais, desaparecem com o crescimento e a maturidade.

Durma em paz

* Mantenha seu ambiente de dormir agradável, escuro e quieto.

* Se você tiver problemas para dormir, não cochile durante o dia.

* Evite substâncias estimulantes, como cafeína, chocolate, nicotina e álcool.

* Só use medicamentos receitados pelo médico.

* Diminua o ritmo, evite atividades muito excitantes.

* Nada de refeições pesadas antes de deitar-se.

* Exercícios só até quatro horas antes de ir dormir.

* Tome um banho morno.

* Só vá para a cama dormir quando não agüentar mais.

* Se mesmo assim, passar noites em claro, procure ajuda especializada.

Fonte: Luciane Bizare Coin de Carvalho, pesquisadora do Departamento de Neuro-Sono da Unifesp.

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