Eles têm diversos nomes e não é difícil encontrar nas farmácias diferentes preços dos inibidores de apetite com sibutramina, princípio ativo que aumenta a sensação de saciedade e que é utilizado em tratamentos para emagrecimento.

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Embora o consumo da substância dependa da avaliação de um médico especialista, muitas pessoas acreditam em uma matemática aparentemente simples: o uso do medicamento vai cortar a fome, que vai acabar com o excesso de peso e, assim, chegar à silhueta tão sonhada.

De acordo com os especialistas, o problema não está na droga e sim na falsa idéia criada em torno dela.

Inibidores de apetite são drogas de auxílio no emagrecimento e o seu uso não substitui a necessidade de um controle alimentar adequado. Além disso, o comprimido sozinho não consegue promover o efeito esperado. Assim, mesmo que diminua o apetite, o efeito pode acabar quando o uso da substância for interrompido. Por isso, os médicos se preocupam cada vez mais com a busca desenfreada por esses recursos para emagrecer.

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Segurança garantida

Em uma condição, praticamente, médicos e pacientes concordam: grande parte do sucesso de um tratamento está no comportamento. O primeiro trabalho é entender que não há como obter resultados rápidos e satisfatórios, buscando perder peso a qualquer custo, sem dispender esforço. “A fórmula certa é a dieta bem feita combinada à atividade física”, reconhece o endocrinologista Alex Leite.

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Em dezembro do ano passado, um estudo feito com 10 mil pacientes com fatores de risco cardiovasculares, nos Estados Unidos, mostrou que a sibutramina também aumenta chances de infarto e de derrame.

A investigação, realizada em larga escala e conhecida como Scout, revelou que 11,4% dos que tomaram a substância sofreram paradas cardíacas ou derrames. “O uso do remédio não precisa ser banido por causa do resultado desse novo estudo porque a segurança do medicamento foi bem estudada” ressalta o especialista, salientando que o importante é observar que a medicação foi usada em um grupo de pessoas que não deveria estar recebendo tal medicação.

Ausência de fome

O FDA, órgão norte-americano que regula a comercialização de medicamentos, aprovou o uso da sibutramina para o tratamento da obesidade no ano de 1997.

O princípio ativo atua diretamente no sistema nervoso central e a “ausência de fome” ocorre porque a substância inibe em 73% a absorção da serotonina, em 54% da norepinefrina e em 16% da dopamina, neurotransmissores envolvidos no controle do apetite, bem-estar e prazer.

“A sibutramina e seus metabólicos promovem uma maior permanência da serotonina e da noradrenalina nas sinapses nervosas e, dessa forma, faz aumentar a saciedade”, esclarece Alex Leite.

O uso do medicamento depende de uma análise criteriosa do histórico de saúde do paciente, que inclui o detalhamento da existência de fatores de risco cardiovascular, como história de infarto na família e derrame prévios, incluindo a hipertensão arterial.

Efeitos conhecidos

“Todos esses efeitos da sibutramina são conhecidos pela comunidade científica há muito tempo”, reconhece a endocrinologista Ellen Simone Paiva. Esse medicamento acelera os batimentos cardíacos e aumenta a pressão arterial, por isso, a especialista insiste que é realmente necessária uma prescrição adequada e criteriosa.

No seu entender, ainda é a melhor alternativa, para não dizer a única, às anfetaminas. Trata-se de uma droga valiosa no tratamento da obesidade, tendo como diferencial a sua ação sacietógena e não anorexígena. Isso equivale a dizer que a substância não “tira” a fome das pessoas que se utilizam dela.

“Esse detalhe é muito importante quando queremos investir na reeducação alimentar, ao invés de aderir às dietas restritivas”, observa Ellen Paiva. Utilizando a sibutramina, as pessoas sentem fome normalmente nos horários das refeições, mas a ingest&atilde,;o de uma quantidade menor de alimentos, já lhes proporciona saciedade.

Outro ponto positivo do medicamento, citado pela endocrinologista, é um discreto efeito no metabolismo, acelerando a queima calórica, que tanto pode ser útil para as pessoas que precisam perder peso.

Ausência de fome

Diferente das anfetaminas, a sibutramina tem efeitos estimulantes bem menores, tanto sobre o sistema nervoso central, quanto sobre o aparelho cardiovascular. Ela não causa dependência e já provou ser útil e segura, inclusive no tratamento de adolescentes obesos. “Assim, em adolescentes e adultos jovens, dificilmente temos problemas com o emprego da substância”, atesta.

Em pessoas acima dos 40 anos, já começam a aparecer, com mais frequência, os efeitos estimulantes, caracterizados por palpitações e insônia. “Esses distúrbios, por serem conhecidos, podem e devem nortear a prescrição do medicamento, não sendo, portanto, compreensível a suspensão do remédio, em meio a um escasso mercado de bons medicamentos para emagrecer”, se posiciona Ellen Paiva.

Outro ponto importante é entender que possivelmente o ideal de beleza que move a busca por um tratamento muitas vezes não é obtido. “O sucesso no emagrecimento depende de características genéticas individuais e dos hábitos que a pessoa manteve a vida inteira”, observa Alex Leite. Em casos de sucesso na redução do peso, a retirada da droga deve ser gradativa para promover a manutenção dos resultados obtidos.

Efeito sanfona

O Brasil tem um dos maiores índices de obesidade e sobrepeso. Mais de 40% da população está com sobrepeso. Tomar os inibidores de apetite faz com que a pessoa perca peso rapidamente.

Assim que deixa de tomar, os quilos perdidos voltam e, invariavelmente, pode-se engordar ainda mais. “Uma importante preocupação é a dependência que os inibidores podem causar. Porque toma e perde peso; não toma, volta o peso. E o paciente acaba tomando cronicamente”, afirma o endocrinologista Henrique de Lacerda Suplicy, professor de Endocrinologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

De acordo com o especialista, os inibidores podem ser prescritos para pessoas que já tentaram emagrecer por meio de um programa de dieta e exercícios, mas não obtiveram sucesso. “Mas não é tão simples assim”, adianta.

Os pacientes precisam ser obesos ou estar com sobrepeso e ter doenças decorrentes da obesidade, como hipertensão e diabetes. “É errado receitar inibidor de apetite para uma menina de 18 anos, que quer perder 2 quilos”, exemplifica Suplicy.

Os inibidores podem causar dependência, irritabilidade e alterações do humor, entre outros distúrbios. “Esses medicamentos têm efeitos colaterais, mas, desde que utilizados adequadamente, os riscos são mínimos”, esclarece o endocrinologista Amélio Godoy Matos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

“As pessoas devem entender que os remédios não vão torná-las magras. Isso só vai acontecer se houver uma mudança radical nos hábitos alimentares e de exercícios”, alerta.

Joyce Carvalho