O médico é um paciente difícil

Luiz Martins já tentou fugir de um hospital. Sua colega, Gilmara Batista, morre de medo de ir ao médico. Até aí, nada demais, não fosse um pequeno detalhe: os dois são médicos. Profissionais dedicados e experientes em suas áreas de atuação. Cada um tem na ponta da língua as razões para agir com tanto receio. Gilmara, por exemplo, prega para seus pacientes a necessidade e a importância da prevenção e do acompanhamento médico. Quando o assunto é com ela, a história é diferente. "Não gosto de ir a médico. Tenho a mania de pensar sempre no pior. Se sinto uma dor no peito, logo espero um infarto", brinca. Por causa desse temor, ela costuma avaliar seus exames sozinha, além de ter o hábito, condenado pela maioria dos médicos, de se automedicar. Ela só procura ajuda de um colega quando não tem sucesso. Foi o que aconteceu em janeiro, ao tentar se curar sozinha de uma gastrite.

O mesmo ocorre com seu ginecologista. "Sei que preciso visitá-lo a cada seis meses, mas acabo prolongando esse período. Se me pedem um exame, só volto com o resultado meses depois." Essa postura faz com que ela sempre tome bronca de seus médicos. Gilmara tem argumentos para se defender: "O conhecimento que tenho sobre saúde me bloqueia e não me deixa agir tão livremente como um paciente comum", comenta.

Para Luiz Martins, é natural a dificuldade de procurar outro médico. "Já aconteceu de eu mesmo questionar a prescrição de certo medicamento." No entanto, ele discorda de que essa categoria seja formada por maus pacientes. Para ele, o grande problema é o atendimento oferecido pelos colegas. "É preciso criar serviços específicos para a comunidade médica?, reconhece. Ele constata que, geralmente, o colega não conversa muito com seu paciente médico, acreditando que ele já saiba de todos os detalhes da doença que motivou a consulta. ?Enfim, não o trata como uma pessoa comum", completa.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) tem um programa de atenção à saúde do médico que tem como foco a dependência química e o estresse, entre outros. Um dos primeiros passos foi traçar um perfil da saúde dos médicos e um mapa das infecções que mais acometem esses profissionais. De caráter nacional, o programa conta com parcerias com diversas associações e entidades.

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