Quando médicos têm a necessidade de seguir algumas escalas de diagnóstico e alguns protocolos de tratamento para um atendimento mais numeroso de pacientes, ocorre uma perda na qualidade do atendimento. É mais provável que ocorra uma visão parcial do paciente, e os aspectos subjetivos daquele indivíduo não são avaliados pela falta de tempo suficiente na consulta, o que traria mais dados para o profissional que, quem sabe, poderia até modificar o procedimento final prescrito.
A ciência é importante, claro, para trazer novas verdades através das pesquisas. Mas nós médicos não podemos perder de vista a humanidade do paciente, o fato de que ali diante de nós está uma pessoa com tantas características subjetivas, peculiaridades, formas de pensar, de sentir diferentes, afeto próprio, inserção na realidade da vida do modo e na possibilidade dele, e etc.. Sem compreensão mais profunda do todo da pessoa, fica mais difícil acertar o tratamento.
O Pai da Medicina, Hipócrates, disse que mais importante do que saber que doença tem determinada pessoa é saber que pessoa tem determinada doença. E isto, eu creio, faz a diferença entre tratamentos que funcionam duradouramente e os que funcionam mais temporariamente, entre os resultados mais sintomáticos e os que produzem cura.
Mas o profissional tem seus limites também. O médico vê muita coisa no paciente. Mas ele só pode ver no outro o que pode ver em si mesmo em termos de ser humano. Médicos também podem ter ansiedade, depressão, dificuldades afetivas variadas. Isto pode interferir no relacionamento médico-paciente com prejuízo para os resultados se aquele profissional estiver com baixa percepção da realidade subjetiva de si e, por exemplo, não compreender o que significa a angústia humana.
Conhecer anatomia, fisiologia, farmacologia, histologia, patologia, microbiologia, etc., é fenomenal! Mas mais ainda, pelo menos para mim, é conhecer o psiquismo de um indivíduo. Ou seja, por que ele funciona deste jeito como pessoa, como um ser pensante, que possui afetos e faz escolhas. Conhecer a pessoa do paciente é maravilhosa aventura.. Entretanto, também é uma maravilha ter profissionais que conhecem muito bem os órgãos humanos, pois assim, em emergências, podemos contar com eles para nos ajudar organicamente, seja pela atuação clínica ou cirúrgica.
Da próxima vez que você for a um médico, abra mais seu coração para ele e fale daquilo que tem incomodado sua vida emocional. Faça perguntas sobre o papel do estresse emocional sobre os sintomas que você apresenta. Bote para fora as queixas emocionais, as preocupações com sua saúde e não somente focalize na dor física aqui e ali ou no mal funcionamento desta ou daquela função do seu corpo. Tomara que ele não saia com sugestões superficiais tipo, “Faça uma viagem!”, ou “Faça mais sexo!”, ou “Compre isto ou aquilo!”, ou “Curta mais a vida!”, ou “Arranje outra cônjuge!”, etc. Ou, sem saber o que dizer, diz que vai passar um “remedinho” para lhe acalmar. O médico acalma o paciente quando ele sabe escutar com o coração e não só com o estetoscópio e quando o paciente está aberto para receber ajuda.
Um bom médico deve ser um bom conselheiro e um bom conselheiro é em primeiro lugar um bom ouvinte.
Talvez você tenha que escutar melhor a verdade interior da sua própria consciência que está dizendo algo para a melhora de sua saúde. Com tanta informação sobre saúde é bem provável que você saiba, pelo menos em parte, o que está praticando e que não é bom. Então, mude. Mude seu estilo de vida. Coma com melhor qualidade. Faça exercícios físicos constantes. Durma melhor e mais cedo. Trabalhe sem ganância. Compartilhe o que tem obtido. A gente ganha mais quando dá mais de coração. Desfrute mais sua família. Freqüente mais a Natureza e menos os shoppings. Seja compassivo com os outros. Veja muito menos novelas (se alguma!) e leia bons livros. Seja bom com você mesmo. Até certo ponto podemos ser nosso próprio médico. A cura vem da prática da verdade em ob,ediência às leis da saúde.