Mais de 80 laboratórios de 20 países participam de uma pesquisa sobre mutações verificadas em exames de paternidade, também chamadas de inconsistências. Tendo como base dezenas de milhares de testes de paternidade realizados, os cientistas analisam as regiões do genoma que são normalmente pesquisadas nestas análises. O trabalho é coordenado pela Sociedade Internacional de Genética Forense (ISFG, sigla em inglês), instituição normatizadora de análises forenses e de paternidade na União Européia. As conclusões finais devem ser divulgadas em breve.
Aqui no Paraná, as conclusões preliminares dão conta que a incidência de mutação é mais comum quando de origem paterna (entre pais e filhos) do que materna. Também está sendo constatado que a taxa de mutação não é homogênea entre as diversas regiões genômicas estudadas, e sim mais elevada em determinados marcadores e, especialmente, em certos alelos (variantes genéticas). Ou seja, alguns alelos de regiões genômicas específicas estão mais propensos a sofrem mutações que outros, resultados estes que aparentam seguir um padrão mundial. E o que o leitor tem com isso? Muito, principalmente se já fez ou conhece alguém que tenha realizado um teste de paternidade. O número de mutações verificadas em um exame de paternidade determina se a análise é capaz de excluir ou não um indivíduo apontado como suposto pai de uma determinada criança. Uma das recomendações da ISFG é que, para se concluir por uma condição de exclusão de paternidade, bastam três inconsistências, e, dependendo da situação, até duas, apenas. Claro que os grandes laboratórios, cada vez mais, evitam ser tão ?matemáticos? em suas avaliações, buscando sempre a obtenção de um número maior de exclusões de paternidade para essa tomada de decisão.
Dependendo das conclusões gerais da ISFG, pode ser que alguns testes de paternidade tenham que ser revistos. Quem sabe, algumas exclusões verificadas pelos cientistas possam se tratar de meras mutações genéticas, e, assim, alguns laudos negativos tenham que ser reavaliados. Ou talvez a ISFG vai apenas aumentar o número obrigatório de inconsistências para que um laudo de exclusão seja validado. Temos que esperar. Os exames de paternidade atingem graus de precisão que oscilam de 99,99% a 99,99999999%. Devido à ausência de uma norma nacional, os principais laboratórios seguem padrões internacionais, dentre os quais aqueles especificados pela ISFG.
São coletadas amostras de sangue da mãe, do filho e do suposto pai e a análise é realizada pelo confronto entre os perfis genéticos obtidos. O teste é processado com o auxílio de modernos equipamentos e um minucioso trabalho de especialistas em genética molecular forense. O exame de DNA pode ser feito, inclusive, para a avaliação de irmandade e outros graus de parentesco (tio-sobrinho, primos, etc.). A análise também pode ser empregada em situações em que o suposto pai é falecido. Nesse caso o exame é viabilizado pela utilização de fragmentos ósseos obtidos pela exumação do cadáver do suposto pai.
Todos nós, indiferentemente da aparência física, somos resultado de uma contribuição genética idêntica de ambos os genitores. Apenas 0,1% de nosso genoma é responsável por toda a diversidade biológica existente no planeta. Fração, essa, ínfima diante dos três bilhões de pares de base que compõem o genoma humano, porém essencial para a realização de exames de paternidade. E que, ainda assim, pode estar sujeita a mutações.
Marcelo Malaghini, consultor técnico em Biologia Molecular do Laboratório Frischmann Aisengart.