O especialista: Prioridade aos cuidados paliativos

ms02111006.jpgCuidar com dignidade dos pacientes vitimados por doenças graves e sem chances de sobrevivência; dar a eles todo o suporte psicológico, espiritual e emocional, assim como a seus familiares; e oferecer-lhes assistência médica e nutricional de excelência, para que desfrutem de uma sobrevida digna e de qualidade. É assim que deve ser a medicina hoje e sempre. Claro que os recursos tecnológicos são grandes aliados na assistência à saúde. Porém, é mister colocar em primeiro plano, em toda e qualquer hipótese, a visão humanística.

É preciso irradiar a cultura de que é essencial tratar o doente e não apenas a doença que o acomete, pois sempre há algo para se fazer pelo paciente, independentemente de não ter mais chances de sobrevivência. O problema é que hoje, no Brasil, as pessoas com doenças graves, sem perspectiva de sobrevivência, estão duplamente castigadas. Primeiro não têm o que fazer contra a doença. Depois, são praticamente condenadas a ter um triste fim, já que o interesse em tratá-las com dignidade é pouco.

Infelizmente, há planos de saúde que adotam um comportamento antiético e as tiram dos hospitais. Para eles, representam custos. Fala-se muito em home care, mas não se leva em consideração os familiares, por exemplo, crianças convivendo com o doente sem uma necessária preparação psicológica, um apoio emocional. Outro problema grave é que muitas instituições públicas simplesmente não têm interesse nesses pacientes. Enfim, é a total falta de respeito e humanidade.

Sou um defensor entusiasta da expansão da medicina paliativa. Há pouco tempo criamos na Sociedade Brasileira de Clínica Médica uma Diretoria de Cuidados Paliativos. Seu intuito é difundir o conceito humanístico para os médicos e suas sociedades de especialidades, o meio acadêmico, instituições de saúde públicas e particulares, como ainda para os gestores do sistema de saúde em âmbitos municipal, estadual e federal.

É urgente uma política de governo para o atendimento humanizado a esse grupo de pacientes. O Estado precisa criar centros regionalizados de cuidados paliativos que funcionem também como hospital-dia. Assim garantiremos que aquele que não necessita de internação seja atendido em suas demandas, inclusive liberando leitos para outros. Ele poderá fazer exames, curativos, receber cuidados gerais, ou seja, um tratamento adequado e competente.

Vivemos tempos de grande avanço tecnológico, mas nada substitui o tratamento humanizado. Não podemos aceitar que pessoas sejam tratadas como o doente do quarto 32, 48, 112. Podemos promover uma reviravolta muito positiva na relação médico-paciente. Todos sabemos que a humanização da prática da medicina passa obrigatoriamente pela assistência digna e pela garantia de sobrevida de qualidade às vítimas de doenças graves, sem esperança de cura.

Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

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