Desde o início da indústria farmacêutica, na segunda metade do século XIX, muitos dos medicamentos lançados proporcionaram significativa melhora da qualidade e da expectativa de vida. Mas poucos provocaram tanto impacto no comportamento das pessoas, levando a debates e polêmicas, no âmbito científico, social, religioso, moral e ético, como a pílula anticoncepcional. A primeira foi produzida e lançada nos Estados Unidos em 1960. No Brasil, surgiu em 1962, sendo utilizada, segundo dados oficiais, por 21% das mulheres em idade reprodutiva, o que equivale, em números de comercialização de 2004, a mais de 11 milhões de usuárias.
No lançamento, foi muito criticada, pela falta de segurança do produto. E porque permitia uma maior liberdade sexual das mulheres, alterando o processo natural de reprodução. Entretanto, o seu uso propiciou avanços nos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, com um melhor planejamento familiar e, sem o impedimento da gravidez, o ingresso no mercado de trabalho.
Além disso, concretizou o sonho da enfermeira Margaret Sanger, defensora da liberdade das mulheres, que havia criado em 1916 a primeira clínica de planejamento familiar dos Estados Unidos, e de Katharine McCormick, que obteve recursos financeiros para as pesquisas que permitiram em 1953, que o bioquímico Gregory Pincus e o ginecologista John Rock iniciassem os testes laboratoriais e em humanos. As pesquisas em mulheres foram realizadas em Porto Rico, devido à descrença de alguns, a resistência de muitos e as restrições legais americanas.
Poucos medicamentos foram tão investigados e por tanto tempo como a pílula. Hoje, utiliza-se na forma combinada ou só com progesterona. Em comprimidos usados por via oral ou via vaginal. E por outras formas e vias de administração, em produtos injetáveis, adesivos colados à pele (patch), em anéis vaginais, implantes subcutâneos e dispositivos intrauterinos (DIU) com hormônio. E mais recentemente com o uso imediatamente após uma relação sexual desprotegida, a chamada ?pílula do dia seguinte?.
Quanto ao futuro da pílula, existe o interesse das mulheres em utilizar produtos com ação prolongada. Que produzam a suspensão ou redução do fluxo, que permitam uma maior comodidade no uso, se possível, abolindo a necessidade de ingestão diária de comprimidos. E que promovam a redução dos sintomas de doenças, que estão relacionadas à menstruação.
Odair Albano, ginecologista e obstetra.