É bastante normal quando alguém caminha sozinho ficar cansado muito mais rápido do que se estivesse junto com um grupo grande de pessoas. Em época de Copa, pegamos carona no consciente coletivo e nos sentimos empurrados em direção ao fracasso ou à glória, vivendo emoções intensas e testando os limites de nossas raças, comportamentos e nacionalidades.
É como uma enorme terapia de grupo, funcional, centralizadora e marcante, onde temos a oportunidade de expressar emoções muitas vezes contidas, resgatar nosso lado social – importantíssimo para ser usado no trabalho ou nos integrarmos socialmente, e desenvolver a percepção global.
Cada pessoa possui três formas de percepção: a primeira é a percepção intrínseca, que corresponde à visão de detalhes e à profundidade; a segunda é a normal, quando observamos as coisas diretamente, como elas são frente a frente; e a terceira é a global, quando vemos o todo, enxergamos a vida por inteiro e entendemos que o mundo é muito grande e cada um pode ser muito pequeno em relação a ele.
Todos nós vivemos sob diversas influências, internas e externas, que podem ser muito mais fortes que a imaginação é capaz de criar. Internamente, existe a memória, genética ou individual, que gera lembranças, idéias, sonhos, etc. Externamente, temos a influência do meio, tão forte e poderosa quanto incontrolável.
Para Carl G. Jung, a influência do meio é decifrada por meio da teoria do consciente coletivo, constituído pela humanidade, ou seja, os vizinhos, o bairro, a cidade, o país, enfim, o mundo.
Mas as influências do consciente coletivo não param aí. Com ele se exercitam outras formas de percepção que são extremamente necessárias para uma boa saúde mental. Acompanhar um evento mundial, como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, significa entrar em sintonia com o consciente coletivo e ser influenciado por ele, desenvolvendo a percepção global e também uma comparação saudável que leva a um autoconhecimento de cada um enquanto "ser coletivo". Conhecer os próprios limites é uma forma de adquirir segurança.
Quando alguém vai fazer compras em um supermercado sem saber quanto tem no banco tende a se sentir inseguro, porque não sabe o seu limite. Um psicótico (deficiente mental) não possui percepção global, ele é capaz de se aprofundar em teorias complicadíssimas, mas não consegue entender o óbvio, compreender o mundo como é ou respeitar as coisas como um todo.
Ganhar a Copa do Mundo pode significar a explosão de emoções fortes, difíceis de serem geradas no dia-a-dia, principalmente de pessoas cuja vida não permite nada além de suas limitações.
Mauro Godoy, psicólogo clínico, especializado em Psicologia Analítica.
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