Todavia, qualquer tipo de análise não pode se furtar de considerar os clássicos. Por tal razão, ao repensarmos a questão da simetria, é oportuno reler temas com o segmento áureo de Da Vinci e os textos clássicos sobre a relação entre arte e natureza: onde nasce antes a beleza, na mente ou na natureza? Evidentemente, essas indagações aplicam-se também à avaliação de resultados em cirurgia estética. Observe as comparações entre uma mão e outra, um olho e outro, o lado esquerdo e o direito do corpo humano, etc. De fato, eles são bem diferentes entre si, embora pareçam iguais.
Por outro lado, a idéia de simetria absoluta em cirurgia estética pode provocar resultados artificiais (como ?rosto de boneca?), que são considerados maus resultados perante essa técnica médica. Há literatura a respeito. Então, o que está em jogo é o aspecto da simetria como fator de avaliação do resultado da cirurgia plástica: quanto maior for a simetria, tanto melhor será o resultado da cirurgia estética, como se esses dois fatores estivessem em razão direta um do outro? Ao que parece, a resposta a essa pergunta é ?não?; ou pelo menos, ?não necessariamente?.
Enfrentando a necessidade de aprofundar criticamente o conceito de beleza, quando se trata de cirurgia estética, haveremos de levar em conta que há um cerne em comum entre direito e beleza: o conceito de belo, bom e justo é implícito ao direito. Por isso o direito é também estético, busca o belo, o bom e o verdadeiro, sendo que aí estão implicadas classicamente as idéias subjacentes de equilíbrio, simetria e proporções.
Quanto às obrigações de meio e resultado: será que em face da tecnologia a cirurgia estética não pode comportar gradações? O desenvolvimento futuro dessa idéia poderá, quiçá, trazer à lume elementos da estética jurídica para o bojo da Teoria Geral do Direito, como também explicar melhor a questão da ?naturalidade? do resultado da cirurgia.
O importante é considerarmos que devem ser mantidos padrões proporcionais de simetria/assimetria, o que é uma constante na evolução do conceito de beleza, desde Nefertiti, passando por Vênus de Milo até os nossos tempos. Nesse caso, a idéia de segmento áureo, formulada por Leonardo Da Vinci, pode ser um ponto de partida para nossos estudos. O conceito de beleza evolui, mas há algo de perene, que é essa relação de proporção.
Maria Francisca Carneiro, doutora em Direito e mestra em Metodologia.