Alguns anos atrás, um dos maiores desafios da ciência era a descoberta da cura do câncer. Hoje, esse anseio de toda a humanidade caminha para uma conquista concreta. O importante avanço não ocorreu da forma quase ficcional com que um dia foi preconizado e tampouco adveio de processos mágicos ou alternativos à ciência médica. Resulta de imenso esforço de pesquisa, que demandou milhões de horas de trabalho de médicos, biólogos, dentistas, químicos e profissionais de áreas afins.
A cura da doença também implica o engajamento dos pacientes, sua coragem, determinação na luta pela vida, disciplina e capacidade de se submeter aos tratamentos às vezes prolongados. Ou seja, é muito mais do que um milagre; é a própria essência humana de preservação da vida.
É importante ter consciência que ainda nem todos os tipos de câncer são curados. Além disso, a eficácia do tratamento também depende muito do timing em que é feito o diagnóstico. Quanto mais precoce é a descoberta do mal, mais chances de cura haverá. Esta regra é válida para todas as variáveis da doença, inclusive o câncer de boca, um dos mais recorrentes no Brasil e no mundo. São cerca de 13.500 casos por ano em nosso País, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Assim, é fundamental que cada indivíduo fique atento a eventuais sintomas na boca, como feridas que não cicatrizam, nódulos, traumatismos provocados por próteses mal adaptadas, manchas esbranquiçadas ou avermelhadas nos lábios ou na mucosa bucal e qualquer anomalia que não desapareça rapidamente. A freqüência pelo menos semestral de visita ao dentista também é muito importante para um diagnóstico precoce, pois o profissional saberá identificar qualquer sinal estranho.
Por outro lado, a melhor forma de combater a doença é a prevenção. O câncer pode manifestar-se no lábio e cavidade bucal (mucosa bucal, gengivas, palato duro, língua e assoalho da boca). A radiação actínica (raios solares) é a principal causa de ocorrências no lábio, sendo o inferior o mais acometido devido a sua exposição direta. Quanto aos localizados dentro da boca, dados de uma pesquisa realizada no País demonstra que mais de 90% dos pacientes fumavam e ingeriam álcool. A bebida alcoólica potencializa a ação dos elementos cancerígenos do cigarro, que possui mais de 4.700 substâncias tóxicas, dentre elas a nicotina, que causa dependência, e o alcatrão, que tem 48 substâncias cancerígenas.
Esse tipo de doença atinge, principalmente, homens com mais de 40 anos. Nos últimos anos, o número de mulheres que fumam e usam álcool tem aumentado, fazendo com que a incidência no sexo feminino cresça rapidamente. A luta contra o câncer ainda não foi integralmente vencida. Os processos de cura até hoje desenvolvidos são um inestimável avanço, mas a consciência preventiva continua imprescindível.
Raphael Baldacci, cirurgião-dentista e presidente do 25.º Congresso Internacional de Odontologia.