A personalidade dos irmãos varia conforme o nascimento também porque eles adotam diferentes estratégias pela aprovação dos pais. O filho do meio (o filho-sanduíche) tem que lutar sempre para que sobre um pouco da atenção dos pais, dividida entre o mais velho, o desbravador, e o mais novo, o queridinho. Essa luta por espaço o faz transitar entre ser o manhoso e o ?tranqüilão?.
É costume dizer que o primeiro filho é o rascunho, devido à inexperiência dos pais que, aprendendo com os erros, fazem do indivíduo um laboratório. O caçula acaba tendo influência não apenas dos pais, mas também dos irmãos, o que pode significar um excesso de censura e proteção. Talvez daí venha a tendência do intermediário em ser o menos problemático.
Em geral, o caçula recebe apoio dos pais e o mais velho, respeito. Quem acaba sobrando nessa é o tal filho do meio, que logo se vê descobrindo o caminho da porta de saída com maior facilidade e, com efeito, aprendendo a andar com suas próprias pernas. Isto é, aprende a cuidar de si e a resolver seus problemas, sem incomodar mais o pai e a mãe. Se não conseguir, amargará o desleixo do abandonado assumido.
Livre de culpas, quase não faz falta, por isso, se gostar de independência, poderá se inspirar nas pessoas de fora e transcender as limitações genéticas. Costuma ser sociável e ter um ponto de vista externo da família que merece ser considerado. Pródigo, mas, quando sai, dificilmente volta.
Vale a pena lembrar que nos dias de hoje casais preferem ter um ou dois filhos ao invés de três ou mais. O que significa que o filho do meio está se tornando cada vez mais raro, fator que pode indicar um mundo de pessoas mais dependentes ou complicadas. Nesse contexto, nos deparamos frente a um fenômeno que acontece na China e tende a se espalhar por todo o planeta: a síndrome do filho único.
Trata-se de um ser diferenciado pela família por receber todo o amor, e expectativa, dos pais, avós e tios, já que não raramente também é o único neto e sobrinho. Esse verdadeiro ?príncipe? tem sua majestade ignorada a partir do momento em que põe os seus pés para fora de casa, já que a sociedade desconhece sua exclusividade.
Pobres deles. Vivendo entre dois mundos tão opostos e tão exigentes. E pobres de nós que, dentro de algumas décadas, seremos administrados por representantes únicos, criados para adorar os seus próprios umbigos.
Mauro Godoy, psicólogo clínico, especializado em Psicologia Analítica.