O Especialista: Faltam filhos do meio

especialista030506.jpgCazuza e Frank Sinatra eram filhos únicos. Sigmund Freud e Winston Churchill, primogênitos. Ayrton Senna era filho do meio. Gandhi e Margareth Thatcher, caçulas. Pesquisas americanas revelam que elevado percentual (40%) de dirigentes de empresas são filhos do meio. No livro Born to Rebel, de Frank Sulloway, consta que os mais velhos ou filhos únicos tendem a ser mais conservadores e obedientes. Os caçulas e os filhos do meio seriam propensos a levar a vida menos a sério.

A personalidade dos irmãos varia conforme o nascimento também porque eles adotam diferentes estratégias pela aprovação dos pais. O filho do meio (o filho-sanduíche) tem que lutar sempre para que sobre um pouco da atenção dos pais, dividida entre o mais velho, o desbravador, e o mais novo, o queridinho. Essa luta por espaço o faz transitar entre ser o manhoso e o ?tranqüilão?.

É costume dizer que o primeiro filho é o rascunho, devido à inexperiência dos pais que, aprendendo com os erros, fazem do indivíduo um laboratório. O caçula acaba tendo influência não apenas dos pais, mas também dos irmãos, o que pode significar um excesso de censura e proteção. Talvez daí venha a tendência do intermediário em ser o menos problemático.

Em geral, o caçula recebe apoio dos pais e o mais velho, respeito. Quem acaba sobrando nessa é o tal filho do meio, que logo se vê descobrindo o caminho da porta de saída com maior facilidade e, com efeito, aprendendo a andar com suas próprias pernas. Isto é, aprende a cuidar de si e a resolver seus problemas, sem incomodar mais o pai e a mãe. Se não conseguir, amargará o desleixo do abandonado assumido.

Livre de culpas, quase não faz falta, por isso, se gostar de independência, poderá se inspirar nas pessoas de fora e transcender as limitações genéticas. Costuma ser sociável e ter um ponto de vista externo da família que merece ser considerado. Pródigo, mas, quando sai, dificilmente volta.

Vale a pena lembrar que nos dias de hoje casais preferem ter um ou dois filhos ao invés de três ou mais. O que significa que o filho do meio está se tornando cada vez mais raro, fator que pode indicar um mundo de pessoas mais dependentes ou complicadas. Nesse contexto, nos deparamos frente a um fenômeno que acontece na China e tende a se espalhar por todo o planeta: a síndrome do filho único.

Trata-se de um ser diferenciado pela família por receber todo o amor, e expectativa, dos pais, avós e tios, já que não raramente também é o único neto e sobrinho. Esse verdadeiro ?príncipe? tem sua majestade ignorada a partir do momento em que põe os seus pés para fora de casa, já que a sociedade desconhece sua exclusividade.

Pobres deles. Vivendo entre dois mundos tão opostos e tão exigentes. E pobres de nós que, dentro de algumas décadas, seremos administrados por representantes únicos, criados para adorar os seus próprios umbigos.

Mauro Godoy, psicólogo clínico, especializado em Psicologia Analítica.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo