O especialista: Dia de reflexões

maissaude_drclaudio.jpgReflitamos, de início, sobre as características da profissão médica. Uma longa formação que segue um dos concursos vestibulares mais disputados, seis anos de graduação, vários anos de pós-graduação: em média dez anos até iniciar o real exercício da profissão. Na seqüência, é a atividade que mais exige educação continuada, verdadeiro empreendimento de toda vida. Esses aspectos não podem ser negligenciados, mas não são os mais importantes. Entendemos que o mais significativo é a essência da profissão: a sua lida com a vida, a busca incessante de uma existência mais duradoura, com mais qualidade e menos sofrimento.

Defender a vida, até ao sacrifício, é o apanágio legítimo da profissão médica. A cada instante, na suprema dignificação da medicina, o médico a tem em suas mãos, seja na assistência da parturiente, na recuperação do sorriso de uma criança ou no alívio daquele que se consome no leito da dor. É pela vida que os médicos lutam, independente de classes social, econômica ou cultural, com o mesmo ardor e igual denodo. Outro grande diferencial da profissão são as características que norteiam a relação médico-paciente: o doente se abre espiritualmente, e a medicina assume a condição de verdadeiro sacerdócio, com o médico se dedicando a escutar no confessionário de seu consultório. Escuta, consola, examina, prescreve, cura. Sem dúvida é uma profissão com muitas peculiaridades que a distingue das demais.

Reflitamos, na seqüência, se essas distinções e qualidades têm sido reconhecidas. O reconhecimento moral em geral está presente. Apesar do sensacionalismo com que são recebidas notícias que envolvem médicos isolados, o respeito e a consideração ainda traduzem a postura maior da sociedade para com a classe médica. Todavia, o reconhecimento econômico está cada vez mais distante da realidade, conseqüência de políticas econômicas injustas e da falta de sensibilidade das operadoras de saúde que não têm demonstrado interesse real em sanear a injusta relação que detêm com a classe médica. Na esfera pública, a cada dia conhecemos novos escândalos que revelam o desvio de nossos impostos e do nosso dinheiro, enquanto hospitais são fechados e os médicos mal pagos.  Mais do que nunca, esta é a hora de conscientização da classe médica. É a hora da união, do brado forte, da busca da dignidade que está perdida e já quase esquecida. É hora de fortificarmos nossas entidades de classe.

Assim, realmente o Dia do Médico é um dia de reflexões. E essas reflexões culminam por nos conduzir a formular cumprimentos especiais, extremamente merecidos e verdadeiros, a todos nossos colegas, que tanto se dedicam a esta profissão especial, mas que ainda aguardam o esperado reconhecimento que está por vir.

Cláudio L. Pereira da Cunha, presidente de Associação Médica do Paraná.

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