O psicólogo deve analisar a relação de cada familiar com a criança, sua afetividade e possíveis contradições no seu discurso. Associada à conclusão do médico, da assistente social e de outros profissionais, o psicólogo deve enviar o laudo ao fórum da região para que o juiz tenha mais subsídios para concluir o parecer sobre o caso. Quando realmente ocorrem maus tratos, a alta hospitalar fica atrelada à deliberação judicial. Por isso, a avaliação dos profissionais deve ser rápida para que a criança não espere muito pela alta.
O registro dessa vivência existirá independente da idade da criança, comprometendo seu desenvolvimento emocional. Isso pode comprometer a relação da criança com outras pessoas e com seus próprios sentimentos. Muitas podem apresentar tendência ao isolamento e a sentimento de menos valia, que a afasta do meio social e restringe seus vínculos afetivos. Quando o agressor é próximo e querido, a criança vive um turbilhão emocional: raiva, revolta, rejeição e abandono. Porém, como nessa relação ainda pode existir o amor, às vezes, a vítima, inconscientemente, tente preservar o agressor, como se acreditasse que mereceu a agressão.
Passar por essa experiência pode ganhar novo significado, o que ajuda a seguir em frente, mas não elimina o trauma. O tratamento psicológico tende a aparar arestas e cuidar das feridas, mas não elimina as cicatrizes.
Monica Giacomini Guedes da Silva, especialista em psicologia hospitalar.